terça-feira, 18 de outubro de 2011

Voyeur



Manhã de terça-feira, 18 de outubro de 2011.

Entro no Twitter, rede social que realmente gosto de participar, mesmo que, muitas vezes, só como leitora, e vejo em minha timeline a seguinte chamada feita pelo jornal Folha de São Paulo: “Menina de dois anos é atropelada duas vezes antes de ser socorrida. Veja” . E aí vem o link para a matéria com o vídeo e umas três linhas explicando o ocorrido.

Confesso: assisti ao vídeo. Fiquei de estômago embrulhado.  Como as pessoas podem ser tão desumanas?

Depois voltei ao Twitter e fiquei olhando aquela chamada. Era a desumanidade reproduzida. Aquele “veja” nada mais era do que um “aprecie” disfarçado.

Nós gostamos de ver a dor, apreciamos o bizarro e gostamos de mostrar nossa indignação - pelas redes sociais. É duro de admitir mas é verdade.

Mas choca também um jornal, que deveria pensar no que diz, presar pelos direitos humanos e pensar naquilo que reproduz, jogar esse “veja” assim, tão cruelmente, assumindo essa postura de voyeur da dor alheia, sem o menor estado de crítica.Será esse o papel de um jornalista? Será esse tipo de observação da realidade que devemos fazer?

Agora que já publiquei meu descontentamento, posso voltar ao trabalho. E às redes sociais. 


Clara Araújo

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mulheres de luta: Boxe

O ALIÁS está de cara nova! Nesta fase decidimos investir numa proposta ousada para peixes pequenos como eu e Clarinha, mas como gostamos do que fazemos e  não tememos arriscar, para petiscar no futuro, decidimos a partir de agora publicar conteúdos exclusivos,  ‘jornalisticamente’ falando. 

O post de hoje inaugura a série Mulheres de luta. O objetivo é valorizar a mulher dentro de um ambiente que ainda é dominado por homens. Para isso, entrevistaremos mulheres que estão envolvidas com diferentes estilos de artes marciais, superam as dificuldades e se destacam pelo trabalho realizado em prol do esporte.

O boxe profissional no Brasil

O incentivo e o patrocínio no Brasil a qualquer esporte que não seja o futebol é muito baixo. Hoje, com a publicidade em torno do Ultimate Fighting Championship (UFC) o número de adeptos das artes marciais mistas aumentou muito. No entanto, todos os atletas brasileiros que  participam do evento buscam apoio em países como os Estados Unidos e o Japão, onde são devidamente valorizados.

A realidade da maioria dos atletas de artes marciais é bem diferente dos ícones do octógono. De acordo com o presidente da Confederação Brasileira de Boxe (CBBOXE), Mauro Silva, a inoperância dos poucos empresários que agenciam os boxeadores torna o crescimento do esporte uma tarefa quase que impossível. “As lutas masculinas e femininas são esporádicas, o boxe profissional brasileiro encontra-se em estado de falência. Os empresários são incapazes de promover espetáculos adequados ou de manterem os atletas com recurso necessários”, diz Silva.

Ainda segundo o presidente, não é possível precisar o número de atletas que praticam o boxe no Brasil, visto que é numerosa a  proliferação de academias não federadas no país. A CBBOXE contabiliza um crescimento anual da presença feminina nos ringues, mas ainda assim pouco expressiva. Hoje, a Confederação conta com  cerca de cem mulheres federadas. Silva ressalta que a única modalidade que nota-se ascensão no Brasil atualmente é o boxe olímpico.

Quem disse que ringue não é para mulher?

Apesar da baixa participação feminina no mundo profissional do boxe, as mulheres têm conseguido aos poucos conquistar o seu espaço.O exemplo disso é Marcela Souza. Ela atua dentro dos ringues, mas não com luvas. Com a maquiagem impecável, Marcela é a responsável pelo veredito final nas lutas. No post de hoje vocês vão conhecer um pouco desta mulher, única árbitra internacional de boxe brasileira integrada a AIBA (International Boxing Association) e reconhecida pela CBBOXE  (Confederação Brasileira de Boxe).  
Marcela durante competição em
Trinidad e Tobago

O trabalho da santista ganhou repercussão em Julho, durante os Jogos Mundiais Militares, quando Marcela se destacou pela arbitragem inquestionável, por ser mulher e negra dentro de um ambiente dominado por homens. 

Árbitra há onze anos, Marcela se divide entre as salas de aula onde atua como educadora física da rede pública do estado de São Paulo e pelos ringues mundo a fora. No currículo, a professora possui competições Panamericanas e Pré-Olímpicas. Ela  espera  representar o Brasil nas próximas Olimpíadas de 2012, em Londres. 

No ano passado Marcela atingiu o grau máximo de qualificação na área, se tornando árbitra três estrelas. Ela topou bater um papo com o ALIÁS e falou sobre a popularização do boxe nas academias, a participação da mulher no ringue e o fenômeno do UFC. Confira a entrevista! 

ALIÁS: Há cerca de um mês, o Rio de Janeiro sediou o maior evento de lutas do mundo. Muitos comentaristas do UFC defendem a ideia de que o boxe foi fortemente ofuscado com a popularização das artes marciais mistas. De fato, hoje em dia  a  TV aberta raramente transmite esta modalidade. Como que o boxe reagiu ao crescimento do UFC?

M.S.: O boxe é um esporte milenar, tanto que é conhecido com “a nobre arte”, tudo que é nobre nada “ofusca” e a cada dia vai ganhando mais respeito e adeptos. 

ALIÁS: Já passou por alguma situação de preconceito? 

M.S.: As vezes vejo uns olhares de lado,querendo dizer: uma mulher vai arbitrar essa lutas?

Arquivo pessoal
ALIÁS: Qual foi a luta mais marcante para você?

M.S.:Foram várias! Em 2002 atuando nas finais do meu 1º Brasileiro(Belém),em 2004 meu 1º Pré Panamericano, onde me tornei árbitro continental,em 2005  meu 1º Panamericano, 2007 Jogos Panamericano(Brasil), e em 2010 quando consegui o grau máximo da arbitragem, me tornando assim arbitra 3 estrelas. 

ALIÁS: Qual é o seu maior objetivo profissional atualmente?

M.S: Participar de uma Olímpiadas.

ALIÁS: A respeito da participação feminina dentro do ringue. Você acha que as mulheres estão conseguindo ocupar este espaço predominantemente masculino?

M.S.: As mulheres estão cada vez mais se mostrando capazes na modalidade, tendo em vista que temos títulos como o bi-campeonato Panamericano, o mundial, além de condecorações às melhores atletas.O Brasil no boxe feminino é visto como o maior rival num campeonato internacional.

ALIÁS: 'Tenha a barriguinha tanquinho em pouco tempo praticando o aeroboxe'. Este slogan é vendido por inúmeras academias no Brasil , principalmente com a chegada do verão. Como você  vê a utilização das  artes marciais, sem combate, pelas academia?

M.S.: É uma ótima modalidade para quem deseja perder peso rápido e contornar os músculos,fazendo perder cerca de 800 cal por aula. É importante lembrar que toda atividade física deve ter um acompanhamento nutricional e médico adequado.

A próxima entrevistada da série Mulheres de Luta será a Mestra de Capoeira e educadora Vanessa Midlej.
Aguarde!

Jaqueline Deister

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Cinema nacional: 180°

Foto: divulgação
Suspense, amor e desilusão profissional. Estes são os temas abordados no filme 180° que estreia hoje nos cinemas do circuito Rio e São Paulo e merece uma atenção especial do espectador.

O longa metragem dirigido por Eduardo Vaisman e escrito pela jornalista Claudia Mattos foi contemplado no edital da Petrobras de baixo orçamento. Foram mais de 220 roteiros de ficção que concorreram ao patrocínio da estatal, mas apenas dez foram chamados para o petting em Brasília. Diante de uma comissão avaliadora,  Vaisman teve dez minutos para defender o projeto. A consistência e originalidade do roteiro  conquistou o edital de R$1 milhão. 

O segundo passo foi montar a equipe e formar o elenco. A tarefa de buscar os atores não foi muito fácil, Vaisman destaca que pelo cachê do filme ser baixo teve que conquistar  Eduardo Moscovis, Malu Galli e Felipe Abib pela originalidade da proposta, e deu certo. 

De acordo com Claudia Mattos, a ideia da história sobre o triângulo amoroso de três jornalistas e o sumiço da caderneta que resulta no livro de sucesso 180°  surgiu a partir da perda da apuração de uma matéria que ela estava fazendo para um jornal. 

Mas a jornalista ressalta que a história do suspense em torno da tal caderneta ganhou corpo na edição, durante o processo de montagem do filme, no qual a ideia de construção coletiva da trama ficou mais clara.  
"A nossa intenção foi fazer uma obra  que pudesse ser construída pelo espectador, que tem papel fundamental como coautor neste filme", diz Claudia. 

Para driblar o baixo recurso financeiro, o mercado distribuidor e exibidor brasileiro que privilegia produções norte-americanas e filmes nacionais aos padrões blockbuster, 180° contou com uma divulgação voltada para estudantes de cinema que tiveram a oportunidade de assistir, em primeira mão, ao filme e debater com a roteirista e o diretor a respeito do processo de produção. 

Um pouco desta conversa eu dividi no post de hoje com vocês. Espero que tenham se interessado para neste final de semana ir ao cinema mais próximo se deliciar com o drama de Anna (Malu Galli), Russel (Eduardo Moscovis) e Bernardo (Felipe Abib). 

Premiação:

 * Júri popular do Festival de Gramado de 2010; 

 *15º Brazilian Film Festival de Miami  (melhor roteiro para Claudia Mattos e de melhor direção para Eduardo Vaisman)


Trailer oficial 


Jaque Deister




sábado, 13 de agosto de 2011

Diário de Bordo

Posso estar redondamente enganada, mas a minha experiência durante os Jogos Mundiais Militares só reforça ainda mais a total impossibilidade do Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas em 2016. Como diz o velho ditado popular: ‘é muita areia para o caminhão carioca, ou melhor, brasileiro’. 

O V Jogos Mundiais Militares contou com a participação de 5.560 atletas que representaram 88 países, é a metade do que teremos nas Olimpíadas e já deu um gostinho ácido dos transtornos que estão por vir.

Os problemas dos alojamentos militares de Campo dos Afonsos (Vila Azul) e Deodoro (Vila Verde), onde parte dos atletas ficou hospedada já podiam ser vistos de longe. Vou comentar desses dois locais, pois pouco tive contato com a terceira e mais longe das Vilas, localizada em Campo Grande (Vila Branca).

Para variar só um pouquinho, as obras das Vilas não foram concluídas. Instalações móveis com tecnologia de ponta para abrigar espaços como o restaurante dos atletas e a acadêmia se contrastavam com os apartamentos inacabados e a falta de banheiros nas áreas comunitárias de treino em Campo dos Afonsos, zona norte do Rio. O jeitinho brasileiro dado para reverter essa situação foi improvisar com os cheirosos e higiênicos banheiros químicos.

Já em Deodoro, também no lado norte carioca, as obras estavam mais adiantadas, pelos menos os banheiros estavam concluídos; Tudo bem que sem luz e sofrendo com os picos de água ao longo do dia, mas lá estavam executando com destreza a sua função.

Por falar em água, recordações desagradáveis vem à tona para quem estava na Vila Verde. Depois de uma semana de reclamações por conta de uma síndrome coletiva de intestino irritável (popularmente chamada de dor de barriga), os superiores do Exército mandaram verificar a salubridade da água e constataram o motivo de tanta dor de barriga: o encanamento do esgoto estava danificado e...bem, vocês já podem imaginar o que aconteceu...

Com muito jogo de cintura e esforço os organizadores, staff e voluntariado driblaram estas dificuldades. No entanto, a falta de planejamento e comunicação entre a própria organização do evento causou situações desnecessárias que facilmente poderiam ser evitadas.

Só não perdemos a batalha porque a hospitalidade brasileira, quando bem feita, conquista qualquer gringo, mas não dá para ganhar com gentileza uma guerra contra a maldita incompetência.

Jaque Deister

terça-feira, 26 de julho de 2011

Desligue a TV


Durante a tarde de hoje vi a notícia mais sem graça em relação a morte da Amy Winehouse. Mais sem graça até do que a própria morte. Um dos "humoristas" do programa Pânico, da Rede TV, havia conseguido invadir o funeral da cantora se passando por amigo dela.

A invasão faz parte de um quadro chamado "O impostor" em que um integrante do Pânico tem a missão de entrar em eventos e festas sem ter sido convidado.A ideia até é boa, se pensarmos que as invasões podem mostrar o quanto o "mundo das celebridades" é pautada por roupa de grife e muita cara de pau.

No entanto, qual a graça de entrar no funeral de alguém? De invadir um momento íntimo, triste e tão intenso para quem realmente se importa com a pessoa, tenha ela vestido roupas de grife ou não.

Fico imaginando o que irá ao ar. Por que é claro que os caras fizeram isso munidos de câmeras escondidas, certo? Será que teremos imagens da família chorando, dos amigos lamentando a perda, ou será que teremos uma fotinho do caixão da cantora?

E o que isso tem de engraçado? Também não sei.

Que o Pânico é tosco, todo mundo já sabe. Que o programa perdeu a graça faz tempo, também.Mas que a produção deles já assumiu o não-humor e a falta de bom senso como pauta, isso para mim soa estranho. Aliás, nesse caso, mais que estranho, soa fúnebre e mostrar que domingos e sextas a noite é melhor não ligar a TV (pelo menos no canal aberto).


Clara Araújo

terça-feira, 14 de junho de 2011

Tirania ou Democracia?

Achei isso o cúmulo e resolvi dividir com os meus leitores.

Petrópolis tem passado por inúmeros problemas administrativos ao longo da gestão do prefeito Paulo Mustrangi e um deles afetou diretamente a Educação. No ano passado os professores do município fizeram greve exigindo aumento salarial e a implantação do Plano de Cargos Carreiras e Salários.

A crise na educação de Petrópolis foi tamanha que ao longo de três anos este é o terceiro Secretário que assume a pasta. Depois da carta de demissão assinada pela ex-Secretária Maria Alice Lima, William Campos, então Secretário de Educação de Belford Roxo, foi convidado pelo prefeito a ocupar o cargo.

De acordo com as 'boas línguas' o convite foi estratégico, pois Campos tem fama de linha dura e seria a pessoa perfeita para 'colocar as rédeas' nos professores e servidores revoltados. Dito e feito, foi com tom de ameaça que ele se dirigiu aos docentes na primeira reunião. Frases como: 'é bom que quem tenha cargo de confiança esteja ao meu lado', avisavam o que estava por vir.

Dentre essas e outras peripécias o mandato de Campos vai caminhando, sem uma oposição efetiva, tanto midiática quanto sindical, que tenha a coragem de colocar a boca no trombone. Para mim, o auge desta 'gestão', ocorreu no dia 3 de junho, quando o Sr. Secretário organizou uma festa para comemorar os seis meses a frente da Secretaria de Educação.

A festa é só para quem está feliz! Pessoas indiferentes e oposição NÃO SÃO CONVIDADOS!

O convite foi colocado em todas as escolas municipais da cidade. Segue abaixo uma foto para que vocês mesmos tirem as suas conclusões do que tem sido a política na cidade Imperial!


Jaque Deister

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Samba: Saberes e Tradições

Gente,

quem estiver pela serra neste sábado (14), mais especificamente em Petrópolis-RJ, não deixe de participar do evento que tem como principal objetivo valorizar a cultura negra do nosso país.  

Segue a programação abaixo.

Jaque Deister


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Luis Buñuel e Viridiana (1961)

Filme inadequado para moralistas religiosos.

Provocante e pertubador. Uma ode de Luis Buñuel (1900-1983) ao anti-cristianismo.

Viridiana (1961) conta a história de uma bela e jovem noviça chamada Viridiana (Silvia Pinal) que antes de fazer os votos de castidade é convencida pela sua madre superiora a visitar o único parente vivo: tio Don Jaime (Fernando Rei). A partir desta inofensiva visita à mansão do titio instaura-se um verdadeiro caos na vida da jovem.

Os bons costumes cristãos são seguidos à risca pela noviça, que ajuda os pobre esperando receber em troca apenas a gratidão por uma oportunidade de recomeçar a vida com dignidade. Porém, Viridiana vai perceber que nem todos querem ser resgatados e que o cristianismo não é um manual com garantia de sucesso .

O filme causou alvoroço quando foi lançado, sendo proibido na Espanha pelo general Franco devido ao seu conteúdo de afronta as virtudes cristãs. Buñuel, que foi um dos precursores do cinema surrealista junto com Salvador Dali, deixou bem clara a sua identificação com o ateísmo ao longo da película. Vale lembrar que é de Buñuel a famosa citação: ‘Sou ateu, graças à Deus.’

A cena mais famosa de Viridiana, sem dúvida, é a representação da Santa Ceia pelos mendigos na fabulosa mansão de Don Jaime e a forma um tanto quanto obscena que a foto de todos reunidos diante da refeição é tirada. Não vou contar, para evitar de estragar a surpresa, mas a cena continua a escandalizar mesmo 50 anos depois.

É uma boa opção de filme para aqueles que desejam um cinema mais provocativo, intrigante e surrealista.

‘Bon appétite’ 

Jaque Deister

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O aplauso do maluco


A tragédia na escola de Realengo, em que um atirador matou 12 crianças e feriu outras 11, deixou o país perplexo. E a cobertura que a imprensa tem feito do caso tem me deixado boquiaberta.

Dia após dia, manchete após manchete, levo um susto atrás do outro e vejo o desserviço que jornais, revistas, tvs e rádios estão prestando.

Tudo começa com o exagero na cobertura do fato em si. Em nome do "furo", do "inédito" e da audiência explora-se o choro, o desespero e a dor, entrevista-se toda e qualquer pessoa e repete-se a mesma pergunta tosca: "como você está se sentindo?".

Passado o dia do assassinato coletivo, começa-se a falar dos mortos. Mostra-se fotos, enterros, famílias desoladas. Invadimos a casa dos outros, aumentamos seu luto, pedimos depoimentos emocionados.

Depois disso, podemos falar do atirador. Era ex-aluno, sofria bullying, deixou um vídeo. O bizarro tem seu rosto exposto para quem quiser ver. Glamurizamos seu feito. Ele se torna a estrela. O ponto central de uma desgraça.

Não pensamos que, como ele, existem muitos outros doentes, movidos pelo ódio e incitados por redes obscuras escondidas no submundo da internet. E o que eles mais querem nessa sociedade de espetáculo? Serem vistos. E sua glória acontece quando um Wellinton Menezes faz o que fez e tem a repercussão que está tendo.

Nós da imprensa e da sociedade temos que repensar, e rápido, a maneira que estamos tratando casos como o da escola de Realengo. E precisamos urgentemente parar de bater palma para maluco, com o olhar tenso e o sorriso sádico de quem tem gosto pela dor.


Clara Araújo

segunda-feira, 14 de março de 2011

Carvoeiros na Bahia

Esvaziando o forno de carvão
Viajar e conhecer as inúmeras faces deste país é um sonho que tenho desde a adolescência e que aos poucos, aproveitando as oportunidades que aparecem, tenho conseguido realizar.

Para falar a verdade quero mais. O trabalho do sonho da jornalista aqui  é produzir um documentário a respeito do que meus olhos tem observado ultimamente. No entanto, tudo  tem a sua hora. 

O vilarejo 

No post de hoje vou dividir com vocês um pouco da experiência que tive no interior do Sul da Bahia, num povoado dominado pela atividade carvoeira chamado Taquari.

Localizado a aproximadamente 990km do Rio de Janeiro, no interior da floresta de eucaliptos, o vilarejo que concentra cerca de duas mil pessoas se caracteriza por ser um dos pólos de exploração do carvão no Sul da Bahia. Segundo estimativas da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Taquari, há mais de 150 fornos na região que são controlados por famílias que vêem a atividade como principal fonte de renda e sustento.

A exploração do carvão é fruto da grande quantidade de eucaliptos que rodeia o vilarejo. A maior parte da área em torno da comunidade pertence a Suzano e a Fibria, duas empresas multinacionais que produzem  papel e celulose para a exportação.

A relação entre o povoado e as companhias é marcada pelo conflito. O processo de automoção da mão-de-obra foi o fator essencial para o descontentamento da população. Inúmeros trabalhadores que se especializaram na derrubada de árvores pela motoserra perderam seus empregos com a chegada do  trator florestal (harvester). A substituição do corte manual pelo mecanizado representou um expressivo aumento na lucratividade destas empresas, já que uma máquina é capaz de realizar o trabalho de cerca de 25 homens. 

Driblar o desemprego e os riscos diários

Produção de carvão em Taquari - BA
O carvão foi a saída para muitos desempregados. Famílias começaram a investir fortemente na fabricação de fornos próprios, tornando-se trabalhadores autônomos. Apesar de terem mais flexibilidade de dias de trabalho, o que faz com que muitos não queiram abandonar a atividade, o carvoeiro trabalha na ilegalidade e expõe constantemente a sua saúde durante todo o processo de produção. 

De acordo com estudos realizados pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, a fumaça do carvão possui substâncias genotóxicas que aumentam significativamente os riscos de câncer no pulmão. Além disso, a poluição pelos resíduos dos fachos também pode causar doenças ligadas aos aparelhos cardiovascular e respiratório. 

Outro risco é a picada  dos escorpiões que se escondem entre as toras. A incidência deste acidente é alta na comunidade, os carvoeiros não utilizam equipamento de proteção para a extração da madeira o que os torna ainda mais vulneráveis durante o trabalho. 
                                                                   O dia a dia  
   
Descanso
O esforço físico demandado para esta atividade é muito grande. Ao acompanhar a rotina de duas irmãs, foi possível concluir que o trabalho na carvoaria é um dos mais extenuantes que se possa ter. A jornada dessas mulheres começa às 5 horas da manhã e vai até as 15 horas, com atividades que vão desde retirar as toras de madeira da floresta, encher o forno vazio e colocar o carvão já pronto nas redes para aguardar o comprador.   

A esperança

O sonho de sair desta vida é o que incentiva alguns carvoeiros que querem uma estabilidade maior no futuro. Aproveitar a alta do carvão é o melhor momento para fazer o 'pé de meia', dizem as irmãs. Em fevereiro deste ano, os carvoeiros estavam vendendo o metro cúbico do carvão vegetal por R$ 90,00. Com este preço, uma família com dois fornos fatura uma média de R$1.600,00 por mês. No entanto, na maior parte do ano esta não é a realidade destes trabalhadores que muita das vezes chegam a produzir, mensalmente, apenas R$ 400,00.

O inimigo oculto

Porém, infelizmente, boa parte dos carvoeiros não sabe aproveitar a alta do produto para poupar dinheiro e acaba gastando o salário obtido nos bares de Taquari. Desfrutar os prazeres momentâneos, como o álcool, principalmente, é o que impede a melhora de vida da maioria, que mesmo ganhando R$ 2.000,00 por mês, continuam vivendo em situação de extrema miséria. 

Jaque Deister

sábado, 12 de março de 2011

Guaratinguetá engorda

"O que é que a gente vai fazer hoje?"

Essa é uma pergunta que sempre gera um certo suspense e desânimo nos finais de semana em que retorno à minha cidade natal, Guaratinguetá, SP.

Situada quase que exatamente no meio do eixo Rio-SP, Guará - como é chamada pelos mais íntimos - já foi uma cidade com várias opções de lazer. Por aqui, já houve parques bem cuidados, um carnaval animado, casas de boliche, equipes competitivas nos jogos regionais e um time de futebol na primeira divisão do campeonato paulista - time que se mudou daqui, em parte, pelas promessas da prefeitura de apoio e reforma do estádio não terem sido cumpridas. Hoje, depois de uma série de desgovernos, Guará amarga a triste situação de estar parada no tempo.

Atualmente, a terra de Frei Galvão tenta, timidamente, ser um centro de turismo religioso. Mas falta muito para alcançarmos o patamar a cidade vizinha, Aparecida do Norte, sempre preterida pelos guaratinguetaenses como uma cidade feia, mal cuidada e cafona.

A Igreja de Frei Galvão nada tem de atraente. Vale só pelo nome e pelo fato de ser a igreja do primeiro santo brasileiro.Aliás, Guará também não tem hotéis o suficiente para receber seus turistas cristãos. Acho, inclusive, que é possível contar nos dedos quantos estabelecimentos desse tipo temos aqui.




Pista de corrida do Bosque da Amizade: lama e buracos
Nós já tivemos parques bem cuidados. Um, aliás, do qual eu gosto muito, privilegia o fato de sermos uma cidade com um belo rio que passa no meio. Nesse parque em questão, chamado Bosque da Amizade, há pista para corrida e caminhada, equipamentos para ginástica, um parque para crianças, além de uma bela área verde. E o Bosque fica em um dos bairros mais valorizados da cidade. Mesmo assim, nem ele escapa do descaso. A pista está cheia de buracos e, vira e mexe, o mato também toma conta da área verde.

Mas, quem é de Guará e não enxerga a pasmasseira que se tornou essa cidade vai dizer: "Mas nós temos um shopping". Ahhh, sim, nós temos um shopping. Ponto. Parou por aí.

No mais, Guaratinguetá é uma cidade que engorda. E engorda por que a maioria das opções de lazer aqui são restaurantes e bares. E mesmo assim, não há tanta coisa que valha a pena.

Guará praticamente não oferece atrativos culturais, artísticos ou esportivos a seus cidadãos e visitantes.Vive de um passado "glorioso" e arrogante que foi enterrado junto com os antigos barões do café que deixaram seus sobrenomes por aqui.

E a prova mais cabal de que Guaratinguetá ajuda a atingirmos o sobrepeso está na figura do prefeito reeleito nas últimas eleições, filho de um ex-prefeito que também não fez muito pela cidade. É ou não é, Sr. Junior Filippo?



Clara Araújo

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Governo ou publicidade?

Uma coisa é certa na política brasileira: mudou o governo, mudou a logomarca. Prefeitos, governadores e presidentes fazem questão de frisar sua administração com uma marca própria para identificar suas ações.

Anhan, Cláudia. Senta lá...
Quando FHC foi presidente, por exemplo, tínhamos uma logo clean, seguida do slogan: Trabalhando em todo o Brasil. Típico dos tucanos que gostam de mostrar serviço e dizer que o que importa é a ação seca e simplória.

FHC foi embora (graças a deus), Lula finalmente subiu a rampa do planalto e trouxe com ele uma logomarca que tentava mostrar que aquele seria um governo feito para todos os brasileiros. Toda colorida, com letras grandes e uma bandeira do Brasil que mais parecia ter sido feita no paint, a logo era o reflexo torto do belo slogan: “Brasil, um país de todos”.  

E país feliz é país sem tristeza...
A Dilma também não fugiu a regra e mudou a logo e slogan do governo federal(o slogan, aliás, tem gerado muitas piadinhas sobre sua redundância).

Mas, todo mundo sabe que essas mudanças acontecem também em nas cidades e nos estados. Em São Paulo, por exemplo, os amargos 16 anos de governo do PSDB já nos fazem pensar que o símbolo adotado é oficial e original. Mas não, é simplesmente mais uma propaganda. Mais um “fui eu que fiz”.  

Oi! Lembra de mim?

Para quem não sabe, toda cidade, estado e país tem um símbolo, um brasão. Criados lá nos tempos em que o Sarney não era dono do Maranhão – ou seja, há muito, muito tempo - os brasões, sim, são os símbolos oficiais das 3 instâncias governamentais. E essas deveriam ser suas marcas.  

Dei essa volta toda pra poder fazer uma reflexão simples. A adoção de diferentes logomarcas pelos diferentes governos demonstra o quanto nossa política é baseada no individualismo e na marcação de território. Parece uma disputa comercial, quando deveria ser... governo! Afinal, os governos são para encaminhar um país ou para servir de palco para publicidade? 


Clara Araújo

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Tragédias repetidas e anunciadas

O olhar de uma profissional do Instituto Estadual do Ambiente - INEA sobre os trágicos acontecimentos na Região Serrana. Helga acompanhou o trabalho de resgate no Vale do Cuiabá, em Petrópolis, como engenheira e como vítima de uma realidade dura e difícil de ser aceita. 

"Mais mortes, mais tragédia... Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo. São Paulo está um caos há dias.

Alguém se lembra das tragédias do ano passado, no Brasil todo? Quem perdeu parentes e amigos com certeza, mas será que os deputados da bancada ruralista lembram? Será que eles estão assistindo estes novos acontecimentos?
A devastação no Vale do Cuabá - Por Michael Lennertz 

Tecnicamente falando, como engenheira florestal e analista ambiental do Instituto Estadual do Ambiente – INEA, na sede de Petrópolis-RJ, eu digo: o novo texto que está sendo votado pela bancada ruralista só vai contribuir para novas tragédias.

A conservação dos topos de morro, das encostas íngremes, nascentes e margens de rios não é uma loucura de ambientalistas, mas necessidade técnica. Quanto mais o solo ficar impermeável menos água irá infiltrar e maiores serão as enchentes. É fato, não teoria, nem falácias de “eco-chatos”.

Como fiscal, muitas vezes me questionam da real necessidade de existir uma reserva florestal, porque o empreendimento poderia ser maior, com mais casas no condomínio ou um galpão maior para a fábrica (mais lucro para o empresário, lê-se aqui).

E casas nas margens de rios e encostas?

Muitos chegam a alegar que é só construir um muro bem feito! Os donos das empreitadas não aceitam e estão dispostos a tudo para para não respeitar a faixa de segurança de 30 metros, que proíbe a construção da margem do rio. Absurdo! Para eles, cinco metros já é suficiente para o rio passar...
.
Outro dia uma senhora reclamou porque foi multada devido a um corte irregular que fez no barranco de sua casa para ter mais espaço no terreno. Havia uma rua com casas em cima e a encosta era íngreme. Dias depois choveu muito forte e o barranco cedeu. Sorte que as casas não foram atingidas, e só a rua sofreu estragos. Sorte.

Mas as tragédias ocorrem. Os rios em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo levaram casas, até de quem estava longe deles, sabe por que? Porque os topos de morros estão desmatados, porque as pessoas na ânsia de se beneficiar com tudo aterram os pequenos córregos, modificam os cursos naturais dos rios e aterram suas margens.

Vale do Cuiabá - Por Daniel Motta
As encostas cederam devido aos corte realizados nos barrancos, às ruas abertas de qualquer jeito e à revelia da legislação ambiental foram palco da maior tragédia natural que o país já viu.

A famosa Faixa Marginal de Proteção (Área de Preservação Permanente nas margens dos rios), calculada por especialistas sérios é de suma importância. O rio passa em seu leito menor (calha normal do rio) mas com as chuvas ocupa as suas áreas de leito maior, aquelas que a legislação tenta proteger da ocupação do homem, não apenas para proteger o rio, mas principalmente para proteger vidas!

Manter áreas verdes nas zonas rurais (a Reserva Legal, por exemplo) e nas cidades (margens de rios, topos de morro, encostas) é essencial para reduzir o volume de água que chega aos rios de uma só vez durante as chuvas.

Mas ignoramos tudo isso, e quando a lama for retirada, as ruas secarem e os rios voltarem ao seu curso normal, novamente vou escutar, de senhores bem vestidos e instruídos: “tenho mesmo que fazer esta tal reserva florestal? Mas o novo código florestal vai acabar com ela!”, ou ainda, “por que não posso construir nas margens do rio? Faixa de 30 metros? Isto é besteira, o novo código vai reduzir isto”.

E quanto mais limitarem a legislação ambiental maiores serão as marcas nas paredes das casas e nos corações de quem perdeu tudo, ou quase tudo."

Helga Dias Arato
Engenheira Florestal
Instituto Estadual do Ambiente - INEA
Superintendência Regional do Piabanha
Petrópolis/RJ 

Jaque Deister

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O lamento na Região Serrana


A notícia do momento é a tragédia que ocorreu na Região Serrana do RJ.  Me manifesto no Aliás como  cidadã petropolitana e principalmente em solidariedade aos meus queridos amigos que perderam entes queridos com este acontecimento.

Todos têm visto a fúria com que a natureza se rebelou nesta semana, afirmando que nada, jamais, estará acima dela. A resposta à maneira como o homem tem usufruído indiscriminadamente os recursos naturais tarda, mas não falha e infelizmente o sofrimento é inevitável. 

Quando os números adquirem rostos de pessoas próximas ou conhecidas, você deixa de ser um simples espectador, sentado no sofá, que lamenta o triste fato em frente ao jornal das 20 horas,  para tornar-se parte do sórdido espetáculo. 

E da noite para o dia,  você encontra-se no meio dos escombros e da lama, desesperado para encontrar pessoas que compartilharam a vida com você. As lembranças são afloradas de repente. Objetos que outrora  eram insignificantes, tornam-se relicário de um passado que será cuidadosamente guardado na memória. 

Impossível traduzir em palavras o sentimento e a dor destas inúmeras famílias. Porém, não dá para esquecer que a vida é mais uma das tantas viagens que fazemos por ai. E toda a viagem, infelizmente, tem hora para acabar. O difícil é aceitar a forma como é feita a partida. 

Serenidade e paz. 

ONDE DOAR:

Teresópolis
O que doar: Água potável, alimentos, roupas, cobertores, colchonetes e itens de higiene pessoal, como sabonete, pasta de dente e fralda descartável

Onde doar: Ginásio Pedrão, Rua Tenente Luiz Meirelles 211, no bairro Várzea



O que doar: Valores

Onde doar: “SOS Teresópolis – Donativos”, agência 0741-2 do Banco do Brasil, conta corrente 110000-9, CNPJ 29.138.369/0001-47



Petrópolis

O que doar: Água, colchão e material de limpeza e higiene

Onde doar: Igreja Wesleyana, em Itaipava

Igreja de Santa Luzia, na Estrada das Arcas, Vale do Cuiabá

Sede da Secretaria de Trabalho, Ação Social e Cidadania - Rua Aureliano Coutinho 81, Centro de Petrópolis
Museu Imperial -  No prédio da biblioteca, no saguão em frente à sala multimídia, com acesso pelo bosque do imperador (praça do Cenip).



Polícia Militar

O que doar: Água mineral, alimentos não perecíveis e material de higiene pessoal

Onde doar: Em todos os batalhões da PM do Rio de Janeiro, a partir de quinta-feira (13)



Rodoviária Novo Rio

O que doar: Donativos em geral, que serão repassados à Cruz Vermelha

Onde doar: Piso de embarque inferior, das 9h às 17h



Viva Rio

O que doar: Roupas e mantimentos

Onde doar: Na sede do Viva Rio (Rua do Russel 76, Glória) ou através de depósito bancário na conta do Viva Rio, no Banco do Brasil, agência 1769-8, conta-corrente 411396-9 e CNPJ: 00343941/0001-28. Para mais informações, ligue (21) 2555-3750 e (21) 2555-3785. A ONG também estará recebendo donativos em todas as unidades das Lojas Americanas no Rio.



Rede de supermercados Pão de Açúcar

O que doar: Donativos em geral

Onde doar: Em todas as 100 lojas da rede no estado do Rio: Pão de Açúcar, ABC Compre Bem, Sendas , Extra Supermercados e Assaí. 



Polícia Rodoviária Federal

O que doar: Donativos em geral, que serão repassados à Cruz Vermelha

Onde doar: Nos 25 postos ao longo de 1.400 km de rodovias federais fluminsenses. O telefone 191 da PRF, que funciona 24h, informa onde fica o ponto mais próximo de sua casa. 



Ministério Público

O que doar: Donativos em geral

Onde doar: Na portaria do edifício-sede, na Av. Marechal Câmara, 370, no centro do Rio, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.



Inea

O que doar: Alimentos não perecíveis, colchonete, material de higiene e limpeza, sobretudo fraldas, e principalmente água. 

Onde doar: Av. Venezuela 110, Praça Mauá, Centro do Rio



Estações do metrô

O que doar: Água, alimentos e produtos de higiene pessoal, a  partir de sexta-feira (14). 

Onde doar: Nas estações Carioca, Central, Largo do Machado, Catete, Glória, Ipanema/General Osório, Pavuna, Saens Peña, Botafogo, Nova América/Del Castilho e Siqueira Campos.




Jaque Deister