sexta-feira, 12 de março de 2010

Meninos, eu vi.



Dia desses fui assistir a um evento universitário na minha cidade, Guaratinguetá. Tratava-se uma corrida de carrinhos de supermercado organizada por uma das muitas e tradicionais repúblicas existentes em Guará.

Além de ser engraçada e divertida, a corrida tem como função ajudar a integrar calouros e veteranos da faculdade. Legal, se pensarmos por esse lado. No entanto, para além do evento, da confraternização e da diversão, o que eu vi não teve nada de engraçado.

O fato de a largada estar marcada para a meia noite e ter sido feita às duas da manhã foi um detalhe que me ajudou na observação de como os veteranos se relacionam com seus calouros - aqui em SP, carinhosamente chamados de "bixos". Nesse meio tempo de espera, pude ver demonstrações de como pode um ser-humano ser babaca e infeliz por achar que sabe mais do que o outro.

Vejamos alguns exemplos.

Um grupo de três "bixos" eram obrigados a fazer "paga-dez" no meio da rua enquanto seus veteranos gritavam em seus ouvidos no melhor estilo "Tropa de Elite". Ali, o que me chamou atenção não foi nem tanto a "prenda" destinada aos meninos, mas o olhar e a pose de general do veterano mandão. O cara se achava o máximo fazendo aquilo e os que estavam em volta dele também. Humilhar o outro gerava prazer.

O segundo fato ocorreu durante a corrida. Enquanto os calouros - um dentro do carrinho e o outro empurrando - se esforçavam e se arriscavam para ganhar sabe-se lá o que, os veteranos corriam ao lado dando """incentivos""" como "Vai, bixo filho de uma rapariga de estrada!" (Ok. A linguagem não foi bem essa, mas foi isso que ele disse).E, mais uma vez, o olhar de ódio, poder e grosseria voltava a reinar.

Confesso que me diverti com a corrida. Mas me assustei ao ver, na prática, algo que sempre detestei: o trote universitário.

Fico pensando o que faz uma pessoa se achar superior a outra a ponto de pensar que pode humilhá-la sem que nada aconteça com ele. E o pior: é fato que os "bixos" de hoje, que passam por isso, serão aqueles que, no ano que vem, irão reproduzir essa prática em nome de uma tradição tosca.

Antes que alguém me crucifique, quero deixar registrado que não são todos os veteranos que se relacionam assim com seus calouros aqui em Guará. Há aqueles que fazem do trote uma brincadeira, um ritual de passagem que eu até acho bacana para quem topa passar por ele. Agora, o que não dá para achar bonito são essas demonstrações públicas de humilhação e grosseria.

Eu sei que vão existir pessoas que podem falar que o trote já foi muito mais violento, que hoje não há tanta coisa pesada. Ok. Talvez não seja tão cruel como antes. Mas a vontade de se fazer "Homem" e "Forte" diante de um outro, ainda perdido diante de uma nova realidade, existe, é real e eu vi.