sexta-feira, 25 de julho de 2008

REPRESSÃO

A nova campanha da marca de cosméticos O Boticário está no ar há mais ou menos um mês. E eu, como boa viciada em TV, há mais ou menos um mês me irrito com a inversão de valores defendida no comercial.

Entitulado "Repressão", a propaganda, feita pela empresa AlmapBBDO, mostra um mundo no qual as mulheres são todas iguais. Todas vestem um vestido cinza num estilo avental, usam por baixo uma camisa branca e tem cabelos pretos cortados na altura do queixo e com franja. Essas mulheres não sorriem. Elas são obrigadas a cortar os saltos de seus sapatos e queimar seus secadores de cabelo em uma fogueira no meio da rua. Também não há espelhos nos banheiros e tudo parece velho e quadrado.

Porém, há uma mulher que descobre em um velho sótão, uma caixa com um tesouro. Algo que há faz feliz, diferente do mundo em que ela vive. E esse "tesouro" é um batom. Um batom o Boticário. Vermelho. Forte. Vivo. E, ao passar esse batom, essa mulher é única. É bonita.

Essa representação do mundo sem vaidade de O Boticário - um mundo todo cinza, todo igual, infeliz - é praticamente a mesma visão de George Orwell em "1984" do mundo totalitário do "Grande Irmão". O mundo sem a valorização da beleza é cruel, castrador e insensível, assim como um estado governado por algo ou alguém que não aceita a diferença.

Agora, pense aqui junto comigo: como é o mundo em que vivemos hoje. Sim, esse mundinho aqui que tanto valoriza a beleza... Não é ele que quer que sejamos todos iguais? Todos magros, fortes, com medidas proporcionais e cabelos bem tratados? Não é esse mundo que da beleza supervaloriazada que propõe que sejamos todos atraentes, levando muita gente nem tão atraente assim a recorrer à academias, psicólogos ou cirugiões plásticos? Não é esse mundo que pede para termos "boa aparência" para simplesmente preencher uma vaga de emprego? Não é então o mundo da vaidade que não nos dá escolha? Que nos castra nas individualidades, que nos inibe de sermos nós mesmos, feios ou bonitos?

Então, me poupem.

E os publcitários que me desculpem, mas senso crítico é fundamental.


Abraços,


Clara Araújo