quinta-feira, 27 de maio de 2010

O homem e os seus demônios


Por que um duelo?
Duas pessoas tentando provar o quê?
Existe alguém melhor ou pior?
Será que realmente há um vencedor?

Numa luta parece que todos perdem
Feridas são feitas e nem sempre cicatrizam,
Sentimentos egoístas gritam por liberdade
Esquecendo-se que o outro também sente.

O prêmio do vencedor é a vaidade e o orgulho
Que o afastam de si mesmo e o iludem.
Tornam o mundo pequeno e solitário
E afastam as pessoas mais amadas.

Que sentido há numa vida sem derrotas?
Que sentido há em viver sem tropeçar?
De que vale a vida sem a grande dádiva de compartilhar aquilo que se é?

Os grandes momentos são simples
E acontecem nos atos mais humildes,
Quando a intenção só se torna presente,
No presente momento em que é.


Michel Cabral*

*Meu amigo, estudante de Psicologia e divagador da vida nas horas vagas.
Jaque

A arte de se despir





O contato com pessoas que não pertencem a nossa “bolha social” ressalta o quanto, apesar de bem informados, ainda somos restritos e medíocres. Mostra que a generalização não é a mãe de toda a sociedade, como muitas vezes somos levados a acreditar, e rompe com a ideia errada de que nada é bom o bastante para ser publicado, pois todos já viram, ouviram falar ou leram tudo o que você pensa. Importante saber que este “todos”, insignificante, é espelhado em você e naqueles que compartilham da mesma atmosfera intelectualizada que a sua.

Por mais que você estude os problemas sócio-econômicos, leia os jornais diariamente, enverede na militância política são poucos os que conseguem produzir um conteúdo de qualidade para fora da sua “bolha”. Há um egoísmo e um espírito de soberania que faz com que jornalistas escrevam para jornalistas, sociólogos escrevam para sociólogos e escritores para escritores, sempre querendo ser o mais inovador, o mais lúdico e intelectual possível. Porém, esquecendo que se tornam aquilo que mais criticam: segregacionistas .

Poxa, temos (me incluo também) que deixar esse rebuscamento um pouco de lado e SENTIR que os leitores vão além do pequeno mundinho ao qual estamos inseridos. O intelectualismo em excesso censura a imaginação para a produção de bons textos, boas peças e bons roteiros, que podem pecar pela falta de teoria para a Academia, mas que conseguem trazer valores em suas obras de maneira sútil e conquistar diferentes platéias através da simplicidade na linguagem. Não seja prepotente para julgar os outros por você mesmo e tampouco aja como autocensor do único espaço onde você pode de fato ser LIVRE.



Jaque Deister

quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Pelas ruas de João do Rio"


Desde o ano passado, quando tive que decidir sobre o que seria meu trabalho de conclusão de curso, um homem tem ocupado meus pensamentos. Acalmem-se, mentes maldosas! Eu não estou falando de nenhum fetiche erótico ou de algum pesadelo com meu orientador (aliás, pode parecer puxassaquismo, mas eu adoro o professor que me orienta nesse final de faculdade). Trata-se de João do Rio, jornalista, cronista e meu tema de estudo.

João do Rio nasceu João Paulo Alberto Coelho Barreto, em 05 de agosto de 1881. Filho de classe média - seu pai era matemático e sua mãe, atriz - em 1903, passou a adotar o pseudônimo que virou praticamente seu nome. Aliás, me arrisco a dizer que nenhum outro pseudônimo traria melhor definição para o homem que retratou a então capital nacional com tanto cuidado e detalhamento.

O talento para o jornalismo e para a crítica surgiu cedo para o escritor. Aos 18 anos, teve sua primeira crônica publicada. Nessa mesma época, publicou seu primeiro conto, abordando a repressão e o desejo homoerótico de um ancião. Isso, pra quem ainda não fez as contas, aconteceu em 1899.

Sim, senhores, João do Rio foi inovador. Inovador, como se pode ver, principalmente, pelos temas abordados em suas crônicas e reportagens. Foi ele um dos primeiros a sair da temática das festas e reuniões dos salões da elite carioca para cair nas ruas.

A vida urbana das pessoas comuns do Rio de Janeiro está ricamente retratada no livro "A alma encantadora das ruas". Alí, João do Rio mostra quem eram as pessoas que faziam a cidade funcionar. Tatuadores, trabalhadores do porto, rezadeiras, músicos. Praticamente todos os personagens das ruas do Rio estão neste livro. E João do Rio, apesar de gostar do glamour da vida high socity, não deixa de visitar nem mesmo as vielas onde se escondem os "comedores de ópio" ou as prisões, chamada pelo autor como o lugar "onde às vezes termina a rua".

Aliás, voltando ao glamour dos salões cariocas do início do século XX, o que será que pensariam os frequentadores destes locais ao lerem uma crônica que se incia da seguinte maneira: "Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilahdo por todos vós". Não sei vocês, mas eu posso ouvir o "Oohhh!" ecoando entre a fumaça de charuto dos homens sábios da época.

Enfim, pra resumir a história, João do Rio foi um homem que inovou. E que agora, parece estar sendo redescoberto por muita gente. A prova disso foi o enredo da Império Serrano este ano, chamado "João das ruas do Rio". E, se você ainda não conhecia nada sobre ele, aproveite o embalo, faça uma busca no Google e boa leitura!


Clara Araújo