segunda-feira, 14 de março de 2011

Carvoeiros na Bahia

Esvaziando o forno de carvão
Viajar e conhecer as inúmeras faces deste país é um sonho que tenho desde a adolescência e que aos poucos, aproveitando as oportunidades que aparecem, tenho conseguido realizar.

Para falar a verdade quero mais. O trabalho do sonho da jornalista aqui  é produzir um documentário a respeito do que meus olhos tem observado ultimamente. No entanto, tudo  tem a sua hora. 

O vilarejo 

No post de hoje vou dividir com vocês um pouco da experiência que tive no interior do Sul da Bahia, num povoado dominado pela atividade carvoeira chamado Taquari.

Localizado a aproximadamente 990km do Rio de Janeiro, no interior da floresta de eucaliptos, o vilarejo que concentra cerca de duas mil pessoas se caracteriza por ser um dos pólos de exploração do carvão no Sul da Bahia. Segundo estimativas da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Taquari, há mais de 150 fornos na região que são controlados por famílias que vêem a atividade como principal fonte de renda e sustento.

A exploração do carvão é fruto da grande quantidade de eucaliptos que rodeia o vilarejo. A maior parte da área em torno da comunidade pertence a Suzano e a Fibria, duas empresas multinacionais que produzem  papel e celulose para a exportação.

A relação entre o povoado e as companhias é marcada pelo conflito. O processo de automoção da mão-de-obra foi o fator essencial para o descontentamento da população. Inúmeros trabalhadores que se especializaram na derrubada de árvores pela motoserra perderam seus empregos com a chegada do  trator florestal (harvester). A substituição do corte manual pelo mecanizado representou um expressivo aumento na lucratividade destas empresas, já que uma máquina é capaz de realizar o trabalho de cerca de 25 homens. 

Driblar o desemprego e os riscos diários

Produção de carvão em Taquari - BA
O carvão foi a saída para muitos desempregados. Famílias começaram a investir fortemente na fabricação de fornos próprios, tornando-se trabalhadores autônomos. Apesar de terem mais flexibilidade de dias de trabalho, o que faz com que muitos não queiram abandonar a atividade, o carvoeiro trabalha na ilegalidade e expõe constantemente a sua saúde durante todo o processo de produção. 

De acordo com estudos realizados pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, a fumaça do carvão possui substâncias genotóxicas que aumentam significativamente os riscos de câncer no pulmão. Além disso, a poluição pelos resíduos dos fachos também pode causar doenças ligadas aos aparelhos cardiovascular e respiratório. 

Outro risco é a picada  dos escorpiões que se escondem entre as toras. A incidência deste acidente é alta na comunidade, os carvoeiros não utilizam equipamento de proteção para a extração da madeira o que os torna ainda mais vulneráveis durante o trabalho. 
                                                                   O dia a dia  
   
Descanso
O esforço físico demandado para esta atividade é muito grande. Ao acompanhar a rotina de duas irmãs, foi possível concluir que o trabalho na carvoaria é um dos mais extenuantes que se possa ter. A jornada dessas mulheres começa às 5 horas da manhã e vai até as 15 horas, com atividades que vão desde retirar as toras de madeira da floresta, encher o forno vazio e colocar o carvão já pronto nas redes para aguardar o comprador.   

A esperança

O sonho de sair desta vida é o que incentiva alguns carvoeiros que querem uma estabilidade maior no futuro. Aproveitar a alta do carvão é o melhor momento para fazer o 'pé de meia', dizem as irmãs. Em fevereiro deste ano, os carvoeiros estavam vendendo o metro cúbico do carvão vegetal por R$ 90,00. Com este preço, uma família com dois fornos fatura uma média de R$1.600,00 por mês. No entanto, na maior parte do ano esta não é a realidade destes trabalhadores que muita das vezes chegam a produzir, mensalmente, apenas R$ 400,00.

O inimigo oculto

Porém, infelizmente, boa parte dos carvoeiros não sabe aproveitar a alta do produto para poupar dinheiro e acaba gastando o salário obtido nos bares de Taquari. Desfrutar os prazeres momentâneos, como o álcool, principalmente, é o que impede a melhora de vida da maioria, que mesmo ganhando R$ 2.000,00 por mês, continuam vivendo em situação de extrema miséria. 

Jaque Deister

sábado, 12 de março de 2011

Guaratinguetá engorda

"O que é que a gente vai fazer hoje?"

Essa é uma pergunta que sempre gera um certo suspense e desânimo nos finais de semana em que retorno à minha cidade natal, Guaratinguetá, SP.

Situada quase que exatamente no meio do eixo Rio-SP, Guará - como é chamada pelos mais íntimos - já foi uma cidade com várias opções de lazer. Por aqui, já houve parques bem cuidados, um carnaval animado, casas de boliche, equipes competitivas nos jogos regionais e um time de futebol na primeira divisão do campeonato paulista - time que se mudou daqui, em parte, pelas promessas da prefeitura de apoio e reforma do estádio não terem sido cumpridas. Hoje, depois de uma série de desgovernos, Guará amarga a triste situação de estar parada no tempo.

Atualmente, a terra de Frei Galvão tenta, timidamente, ser um centro de turismo religioso. Mas falta muito para alcançarmos o patamar a cidade vizinha, Aparecida do Norte, sempre preterida pelos guaratinguetaenses como uma cidade feia, mal cuidada e cafona.

A Igreja de Frei Galvão nada tem de atraente. Vale só pelo nome e pelo fato de ser a igreja do primeiro santo brasileiro.Aliás, Guará também não tem hotéis o suficiente para receber seus turistas cristãos. Acho, inclusive, que é possível contar nos dedos quantos estabelecimentos desse tipo temos aqui.




Pista de corrida do Bosque da Amizade: lama e buracos
Nós já tivemos parques bem cuidados. Um, aliás, do qual eu gosto muito, privilegia o fato de sermos uma cidade com um belo rio que passa no meio. Nesse parque em questão, chamado Bosque da Amizade, há pista para corrida e caminhada, equipamentos para ginástica, um parque para crianças, além de uma bela área verde. E o Bosque fica em um dos bairros mais valorizados da cidade. Mesmo assim, nem ele escapa do descaso. A pista está cheia de buracos e, vira e mexe, o mato também toma conta da área verde.

Mas, quem é de Guará e não enxerga a pasmasseira que se tornou essa cidade vai dizer: "Mas nós temos um shopping". Ahhh, sim, nós temos um shopping. Ponto. Parou por aí.

No mais, Guaratinguetá é uma cidade que engorda. E engorda por que a maioria das opções de lazer aqui são restaurantes e bares. E mesmo assim, não há tanta coisa que valha a pena.

Guará praticamente não oferece atrativos culturais, artísticos ou esportivos a seus cidadãos e visitantes.Vive de um passado "glorioso" e arrogante que foi enterrado junto com os antigos barões do café que deixaram seus sobrenomes por aqui.

E a prova mais cabal de que Guaratinguetá ajuda a atingirmos o sobrepeso está na figura do prefeito reeleito nas últimas eleições, filho de um ex-prefeito que também não fez muito pela cidade. É ou não é, Sr. Junior Filippo?



Clara Araújo