quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Por que será?


Uma pergunta me ocupa a mente faz um tempo: por que será que ninguém, ou quase ninguém, faz comentário neste blog?

Ainda com essa questão na cabeça, comecei a trabalhar com um site participativo, o Radiotube. Lá, as pessoas podem postar áudios e textos, que estão livres para serem reproduzidos em qualquer lugar.

O Radiotube é voltado para quem gosta e produz rádio. Mas, principalmente, para discutir temas relacionados à cidadania.

Lá no Radiotube também há, óbvio, espaço para a troca. E esse é - ou deveria ser - o grande trunfo do portal. Só que, o que vemos lá, e em tantos outros sites e blogs, é que as pessoas passam por lá, mas não dizem nada. Não tecem nem um comentário... Nada.

Sabemos que os áudios são baixados, que os textos são lidos... Mas, os comentários ainda são poucos, raros...

Acho que vivemos numa cultura de comunicação que nunca nos deu muito espaço para o pensamento. Mas agora, novas áreas estão se criando e é preciso ocupá-las.

Voltando a este humilde blog, temos um contador que gira a passos lentos, mas gira. Isso significa que existem pessoas que passam por aqui ao menos de vez em quando.

Sinceramente, não acho que o conteúdo desse espaço aqui seja assim tão desinteressante. Embora não seja atualizado com muita frequência, Jaqueline e eu, sempre que podemos, passamos por aqui e postamos algo...

Então, bora lá, povo!

Não é preciso concordar com a gente. Mas se você nos lê, pense, reflita, e coloque sua boca no mundo!!

Abraços!

Clara

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Me dá um dinheiro aí


Li esse texto no Blog do Tas e achei interessante repartir com vocês aqui.

Beijos!

Clara


***
Vou fazer um slideshow para você.
Está preparado? É comum, você já viu essas imagens antes.
Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.
Aquelas com moscas nos olhos.
Os slides se sucedem.
Êxodos de populações inteiras.
Gente faminta.
Gente pobre.
Gente sem futuro.
Durante décadas, vimos essas imagens.
No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem.
São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em
Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se
sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o
problema da fome no mundo.
Resolver, capicce?
Extinguir.
Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em
nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número.
Mas digamos que esteja subestimado.
Digamos que seja o dobro.
Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ong, lobby ou pressão que resolvesse.
Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia.


..::..
Texto de Neto, publicado no blog
Updaters.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

E o perdedor é...

O confronto entre policiais civis e militares, em São Paulo, no último dia 16 de outubro, mostrou, fundamentalmente, duas coisas: que houve erro no planejamento da segurança do Palácio dos Bandeirantes durante a manifestação, e, o mais grave de tudo, que a divisão entre as polícias de São Paulo é mais profunda do que se pensava.
Vamos começar pelo segundo e mais grave erro.
Quem é paulista sabe: a rixa entre policiais civis e militares no estado não vem de hoje. Há muito tempo escutamos histórias de que as duas instituições, ao invés de se ajudarem, travam disputas de poder para saber quem é que manda mais.
Aí, a Polícia Civil entra em greve e resolve fazer uma manifestação. E, o objetivo dessa manifestação era entrar em uma área proibida para todo e qualquer manifestante: os arredores do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
E, para fazer a segurança da área, este mesmo governo, na figura da Secretaria de Segurança Pública, chama Policiais Militares, a Tropa de Choque (também militar) e grupos táticos da Polícia Civil para conter a manifestação dos próprios policiais civis.
No caminho da manifestação, os grevistas conseguiram passar por 3 barreiras de PM’s. Porém, ao chegar ao Palácio, encontraram a Tropa de Choque montada em cavalos e seus próprios colegas civis, armados. Durante o embate, os policiais civis que estavam lá para conter a manifestação e ajudar a PM, mudaram de lado e passaram a apoiar os grevistas.
Tumulto pronto e estabelecido, vemos, enfim, a concretização da de uma disputa velada durante anos: polícia contra polícia, um duelo de forças que não resultou em nada.
Ou melhor, teve um resultado sim: a greve ganhou ainda mais força. E mostrou a fragilidade na capacidade de planejamento da Secretaria de Segurança pública de São Paulo.
Enquanto isso, os cidadãos ficam a deriva, esperando que os ânimos se acalmem e que a normalidade se (re?) estabeleça.
Clara

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A atuação da mídia e o caso Santo André


A história é típica dos últimos capítulos da novela das oito. O obcecado ex-namorado descobre pelo orkut que a sua "ex" está "ficando" com outro garoto. Ele não aceita o término do namoro e muito menos o fato da menina iniciar um novo relacionamento, invade a casa da garota armado e faz refém quatro jovens: Eloá- a ex-namorada-, Nayara- a melhor amiga- e dois adolescentes que estavam no apartamento da jovem para realizar um trabalho escolar de Geografia.

O enredo foi perfeito para a mídia que espetacularizou mais uma vez um drama da vida real. E preparem-se porque agora é a hora dos desdobramentos do final trágico do caso. Agora vamos preparar nossos ouvidos para escutar "os especialistas". É o capítulo três dessa minissérie. São psicólogos que desvendam a mente de Lindemberg, e respondem as perguntas de como um jovem aparentemente normal age desta forma, e aplicam teorias que explicam o porquê do desfecho trágico. Os peritos forenses que contratados pelas emissoras de TV fazem a reconstituição da cena do crime, dizendo: - Não esta almofada não estava do lado direito, mas sim do esquerdo... ; é realmente esse orifício na lateral esquerda da parte superior da parede foi feito por um projétil...

São também "os palpitadores" de plantão que ganham espaço. A Record News agora quer que VOCÊ, amigo telespectador, ligue para lá e dê a sua opinião sobre o caso, o que você acha do final da história, dos policiais, da trajetória da bala que atravessou o cérebro de Eloá?

Sou claramente a favor da participação do espectador, da tão famosa interatividade. Mas vamos com calma, a televisão já é redundante por natureza, contudo a rede Record consegue deixar a informação redundante ao quadrado. O telespectador é quase que chamado de imbecil. Eles utilizam este tipo de recurso para alimentar o senso comum e sugar o máximo possível, até a exaustão a última gota de sangue do caso. Foi assim com a Isabela e provavelmente será assim com este também. Infelizmente o caso é tão explorado que perde o seu potencial de comoção e acaba caindo na banalidade um tempo depois. A televisão deve ser repensada, principalmente do ponto de vista deste tipo de cobertura jornalística.

Eu e Clarinha estivemos na última sexta-feira, dia 17, na Pró-Conferência Nacional de Comunicação, na ALERJ (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro). Muita gente com o discurso demagógico da antiga esquerda tentou alvoroçar a platéia, idéias boas e ruins sobre o rumo da comunicação foram lançadas. Mas o motivo central do encontro, a criação de uma Conferência Nacional de Comunicação, se faz como uma necessidade para que a população tenha uma qualidade melhor de informação. A legislação a qual as emissoras de TV, por exemplo, são subordinadas está desatualizada. O Código Brasileiro de Telecomunicação, pasmem, é de 1962. E obviamente não é respeitado pelas grandes empresas que deveriam ter em sua grade pelo menos cinco horas diárias de programação educativa,e apenas 25% de publicidade. Para se ter uma idéia de como esse universo é completamente sem lei, as concessões da Rede Record, da Rede Globo e da Band estão vencidas.


O Estado tem que ter um pulso firme com a maneira como a comunicação é realizada no país, transformar seqüestrador em “super star”? Abrir o microfone para ele, conceder o tempo que for para o Sábio Senhor Lindemberg falar ao vivo para todo o Brasil? É isso que ele queria. O circo foi todo montado, e ele foi o protagonista do espetáculo como quis. Todos, polícia, advogado e imprensa dançaram de acordo com a música que Lindemberg escolheu, com direito até ao retorno de ex-refém para o cativeiro (alguém já viu isso?), os figurantes seguiram os passos como o tutor queria e tiveram o final que menos esperavam.


O que eu instigo com todo esse blá blá blá, é que você pense um pouco mais no papel da mídia nesse tipo de cobertura. Até que ponto a exploração do fato e da imagem são realmente eficazes e necessárias? O papel da imprensa jornalismo é relatar e não interferir nos fatos. E será que no caso Santo André simplesmente relataram?

Jaque

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O VALOR DO SILÊNCIO



Hoje pela manhã, acho que pela primeira vez na minha vida, ouvi uma propaganda política que achei boa. As propostas não eram nada de mais, seu discurso muito menos. O interessante foi a maneira com que o candidato se dirigiu ao seu público.

Parado dentro do estacionamento da estação das barcas, em Niterói, de frente para umas mil pessoas que aguardavam a embarcação para ir para o Rio, o candidato, munido de um mega fone, não gritou, não tinha musica de fundo, não repetiu seu texto. Desejou “bom dia”, falou normalmente, agradeceu e nos deixou em silêncio. E, para mim, aí está seu grande crédito. A valorização do silêncio.

Vivemos em cidades que nos sufocam com seus sons intermináveis. Ônibus, camelôs, policiais, ambulâncias, “bom dia, passageiros”, “duas balas por um real”... Ufa! E quando é que se pára para refletir, pensar sobre o que vivemos ou não?

O silêncio é o espaço da reflexão. É com ele, ou, através dele, que se cria o espaço da imaginação, da confecção de conceitos. E, quem é de rádio, gosta e/ou estuda o tema, já deve ter ouvido falar da importância dos minutos de silêncio em uma das obras mais famosas de George Orwell, “A guerra dos mundos”.

Depois de uma incessante simulação da invasão de ETs aos Estados Unidos, Orwell simplesmente corta a narrativa com minutos do mais puro silêncio. Toda essa engenhosidade de Orwell resultou em uma histeria geral das pessoas que ouviam o programa naquela tarde.

É claro que “Guerra dos mundos” tem muitos outros fatores que influenciaram no pânico gerado na população. Mas é fato que uma característica crucial do programa foi esse “espaço em branco” deixado por Orwell, dando (mais) liberdade de imaginação e ação aos seus ouvintes.

Por isso, valorize seu silêncio. Sempre que puder, tire uns minutos para pensar em nada e pensar o mundo!


Clara