quarta-feira, 4 de março de 2009

Carta aberta ao prefeito de Niterói


Carta aberta ao excelentíssimo Sr. Prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira.


Caro Senhor Prefeito.

Não sou sua eleitora. Nem mesmo voto em Niterói. Porém, resido nesta cidade há dois anos. Portanto, há dois anos pago meus impostos aqui. IPTU, luz, água, compras de necessidade básica e outras nem tanto, tudo é feito e pago nesta cidade que escolhi para cursar minha faculdade.

Sou apaixonada por esse lugar que, apesar de não ter nascido aqui, considero como meu. Adoro sua paisagem, seu clima, suas pessoas. Porém, Sr. Prefeito, eu, assim como tantos outros moradores do bairro do Ingá, sofremos a tempos com um problema sério de (in)segurança.

No último domingo, dia 1° de março, por volta das 17h, eu voltava do shopping com uma amiga. Estávamos a pé. Ao virarmos a esquina da rua Visconde de Morais com a Andrade Neves fomos abordadas violentamente por uma menina que estava sentada ali. Ela me agarrou pela blusa e nos obrigou a dar para ela nosso dinheiro e celulares. A menina, que devia ter no máximo 15 anos, tinha uma faca e estava obviamente drogada.

Em frente ao local no qual fomos assaltadas existe um cortiço. Na hora em que houve o assalto, havia várias pessoas sentadas na varanda da “casa”. Essas, mesmo vendo que estávamos sofrendo uma violência, não fizeram nada. Isso por que é sabido de todos que algumas das pessoas que moram ali são também assaltantes.

Não tenho provas dessa minha acusação. Mas tenho o meu conhecimento como moradora e o depoimento de pessoas da região e pedestres que passam por ali, todos os dias, com medo. Essas mesmas pessoas também podem confirmar que, várias vezes, uma viatura policial para em frente a esse cortiço. Depois, um policial desce, entra na casa e sai, com um sorriso no rosto.

Já fui assaltada duas vezes na Visconde de Morais. E eu posso relatar, no mínimo, mais uns 10 casos de assalto a pedestres que ocorreram ali. Certamente, os porteiros dos prédios dessa rua também tem uma lista enorme de casos para contar.

Das duas vezes em que fui assaltada, liguei para o 190 para ver se alguma viatura poderia ir para lá fazer uma ronda e, quem sabe, recuperar o que eu havia perdido. Nas duas vezes, não vi nem sombra de polícia no local.

No final do ano passado, um abaixo-assinado circulou pelos prédios do Ingá pedindo mais policiamento no local. No entanto, apesar das várias assinaturas, nada mudou.

Como disse, Senhor prefeito, não votei no senhor, pois não voto em Niterói. Mas, tive a oportunidade de, ano passado, viver a campanha eleitoral na disputa pela prefeitura. E eu me lembro de ter ouvido uma propaganda eleitoral em que o senhor dizia precisar de apenas 2 meses para dar um susto na cidade.

Pois bem. Dia 1º de março o senhor completou dois meses em sua nova gestão como prefeito. E o susto que eu e minha amiga levamos neste dia não foi nada agradável e nem original.

Esta carta fala apenas em meu nome e no de minha amiga que estava comigo no último domingo. Mas tenho certeza que várias outras pessoas tem o mesmo sentimento expresso nela. E tenho certeza também de que algo deve e será feito para mudar esta situação.


Maria Clara Araújo

estudante da Universidade Federal Fluminense

6 comentários:

  1. Visconde de Morais com a Andrade Neves é o berço do crime em Niterói. Como você disse, a quantidade de furtos que ali ocorre parece servir muito mais a formulação em nós de um ar blasé e a adaptação a novas rotas para andar na cidade do que para alertar à polícia e a prefeitura sobre o quadro. Infelizmente. Sabemos também que o policiamento ostensivo em Niterói só serviu para engordar o bolso de meia dúzia de policiais corruptos que cagam e andam para suas funções. Odeio o discurso que coloca o Rio como o inferno das pessoas de bem e o paraíso da bandidagem. Mas odeio por ser o mais plausível e conivente com nossa realidade. Eu que sou homem e, às vezes, saio em galera já fico cagando de medo, imagina as mulheres. É patético. Assim como no post abaixo, assino embaixo. Dessa vez endereçando ao prefeito do assobio e do choque de ordem.

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  2. Aqui no Rio, já podemos observar que o crack é a droga mais consumida por essas crianças e adolescentes, moradores de rua.Essa porcaria os deixa mais agressivos do que são normalmente. Infelizmente são zumbis que estão surgindo nas ruas. Quando vou ao Maracanã fico preocupado, tamanha é a quantidade deles vagando no entorno na perspectiva de roubar alguém.

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  3. Maria Clarinha de Araújo,

    Parabéns pela carta, o texto bem escrito e direto ao assunto.

    Vou mudar o nome da rua e da cidade. Agora entenda-se como Brasil.

    Vamos mudar Carta Aberta ao prefeito. Agora chama-se POVO Brasiliro - é o povo do Brasil.

    Esse caso seu foi muito ruim. Pena que aconteceu. E a garota de 15 anos? Pena dessa menina. Uma adolescente. "Sem eira, nem beira" como diria minha vó.

    Não é pela grana, nem o celular. É pela vontade de sair na rua e ser livre. Precisamos mudar isso. Estamos aqui pra quê?

    Bsj e boa sorte na Visconde de Morais. Talvez se fosse na Rua Vinicius de Morais vivessemos uma eternidade de paz e amor.

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  4. Palmas pela iniciativa louvável, Clara... Acho que sou um dos poucos moradores daqui do entorno que nunca foi assaltado (tentaram uma vez, mas dei sorte).

    É o cúmulo ver tantos roubos por dia e ninguém se manifestando contra isso. Lembro que no fim de 2007, se não me engano, saiu uma matéria no "O Globo" sobre assaltos no entorno de campi de universidades, citando principalmente a UFF (a Rua Tiradentes e a Visconde de Morais eram postas como as de maior incidência) e o Fundão. Isso foi em uma edição de domingo, e na segunda já tinha uma patrulinha dando voltas pelo quarteirão durante quase todo dia. Isso durou, sei lá, no máximo um mês (ou, se preferir, o tempo que as pessoas levaram para esquecer a tal da matéria). O ponto é: existe viabilidade, é só querer fazer as coisas do jeito certo.

    Bjaum!


    P.S. Conseguiu falar com a redação do Fluminense?

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  5. O único susto dos niteroienses nos últimos meses foi o nó no trânsito gerado pela inauguração do Guanabara, estrategicamente mal posicionado no Centro da cidade. rs Mas fazer, o quê, como diria as campanha eleitoral, "é mesmo um caso de amor".

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  6. Clara, eu fico impressionada, esse assunto é muito sério. Eu nunca entendo bem o que acontece em Niterói. Eu morei a vida toda na Vila da Penha, chegava bêbada, sozinha e de madrugada, sabe quantas vezes fui assaltada? Nenhuma. Moro aqui desde 2004, fui quatro vezes assaltada, e algumas vezes tive grandes presentimentos e apertei o passo, entrei na farmácio e bla bla bla...Sempre me dá uma angústia, sabe porque? Porque dessas quatro vezes fui assaltada DE MANHÃ duas vezes, DE TARDE uma vez e outra de noite (21hs), ou seja, ande em Niterói e seja assaltada. E é ASSALTADA mesmo, porque a galera escolhe as meninas, geralmente não me mostram armas, mas os caras são grandes, assustam, levam tudo no grito, é horrível. Eu tenho medo do centro, de São Domingos e do Ingá, moro aqui e pretendo ficar mais uns anos, mas confesso ter profunda tristeza de ver as coisas acontecendo desse jeito em um lugar que é tão gostoso andar, encontrar gente, namorar vendo o mar...Muito triste, grande carta!

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