quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O VALOR DO SILÊNCIO



Hoje pela manhã, acho que pela primeira vez na minha vida, ouvi uma propaganda política que achei boa. As propostas não eram nada de mais, seu discurso muito menos. O interessante foi a maneira com que o candidato se dirigiu ao seu público.

Parado dentro do estacionamento da estação das barcas, em Niterói, de frente para umas mil pessoas que aguardavam a embarcação para ir para o Rio, o candidato, munido de um mega fone, não gritou, não tinha musica de fundo, não repetiu seu texto. Desejou “bom dia”, falou normalmente, agradeceu e nos deixou em silêncio. E, para mim, aí está seu grande crédito. A valorização do silêncio.

Vivemos em cidades que nos sufocam com seus sons intermináveis. Ônibus, camelôs, policiais, ambulâncias, “bom dia, passageiros”, “duas balas por um real”... Ufa! E quando é que se pára para refletir, pensar sobre o que vivemos ou não?

O silêncio é o espaço da reflexão. É com ele, ou, através dele, que se cria o espaço da imaginação, da confecção de conceitos. E, quem é de rádio, gosta e/ou estuda o tema, já deve ter ouvido falar da importância dos minutos de silêncio em uma das obras mais famosas de George Orwell, “A guerra dos mundos”.

Depois de uma incessante simulação da invasão de ETs aos Estados Unidos, Orwell simplesmente corta a narrativa com minutos do mais puro silêncio. Toda essa engenhosidade de Orwell resultou em uma histeria geral das pessoas que ouviam o programa naquela tarde.

É claro que “Guerra dos mundos” tem muitos outros fatores que influenciaram no pânico gerado na população. Mas é fato que uma característica crucial do programa foi esse “espaço em branco” deixado por Orwell, dando (mais) liberdade de imaginação e ação aos seus ouvintes.

Por isso, valorize seu silêncio. Sempre que puder, tire uns minutos para pensar em nada e pensar o mundo!


Clara

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