quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Pelas ruas de João do Rio"


Desde o ano passado, quando tive que decidir sobre o que seria meu trabalho de conclusão de curso, um homem tem ocupado meus pensamentos. Acalmem-se, mentes maldosas! Eu não estou falando de nenhum fetiche erótico ou de algum pesadelo com meu orientador (aliás, pode parecer puxassaquismo, mas eu adoro o professor que me orienta nesse final de faculdade). Trata-se de João do Rio, jornalista, cronista e meu tema de estudo.

João do Rio nasceu João Paulo Alberto Coelho Barreto, em 05 de agosto de 1881. Filho de classe média - seu pai era matemático e sua mãe, atriz - em 1903, passou a adotar o pseudônimo que virou praticamente seu nome. Aliás, me arrisco a dizer que nenhum outro pseudônimo traria melhor definição para o homem que retratou a então capital nacional com tanto cuidado e detalhamento.

O talento para o jornalismo e para a crítica surgiu cedo para o escritor. Aos 18 anos, teve sua primeira crônica publicada. Nessa mesma época, publicou seu primeiro conto, abordando a repressão e o desejo homoerótico de um ancião. Isso, pra quem ainda não fez as contas, aconteceu em 1899.

Sim, senhores, João do Rio foi inovador. Inovador, como se pode ver, principalmente, pelos temas abordados em suas crônicas e reportagens. Foi ele um dos primeiros a sair da temática das festas e reuniões dos salões da elite carioca para cair nas ruas.

A vida urbana das pessoas comuns do Rio de Janeiro está ricamente retratada no livro "A alma encantadora das ruas". Alí, João do Rio mostra quem eram as pessoas que faziam a cidade funcionar. Tatuadores, trabalhadores do porto, rezadeiras, músicos. Praticamente todos os personagens das ruas do Rio estão neste livro. E João do Rio, apesar de gostar do glamour da vida high socity, não deixa de visitar nem mesmo as vielas onde se escondem os "comedores de ópio" ou as prisões, chamada pelo autor como o lugar "onde às vezes termina a rua".

Aliás, voltando ao glamour dos salões cariocas do início do século XX, o que será que pensariam os frequentadores destes locais ao lerem uma crônica que se incia da seguinte maneira: "Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilahdo por todos vós". Não sei vocês, mas eu posso ouvir o "Oohhh!" ecoando entre a fumaça de charuto dos homens sábios da época.

Enfim, pra resumir a história, João do Rio foi um homem que inovou. E que agora, parece estar sendo redescoberto por muita gente. A prova disso foi o enredo da Império Serrano este ano, chamado "João das ruas do Rio". E, se você ainda não conhecia nada sobre ele, aproveite o embalo, faça uma busca no Google e boa leitura!


Clara Araújo

4 comentários:

  1. Tô falando q o cara tá famoso...
    Recebi de uma amiga hj a noticía de q "A alma encantadora das ruas" vai ser lançado em inglês.
    Segue o link:
    http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/05/05/classico-de-joao-do-rio-sobre-vida-na-cidade-ganha-edicao-bilingue-com-ilustracoes-de-waltercio-caldas-916509946.asp

    Clara

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  2. Clara, fiquei com um gostinho de quero mais!! Há coisa melhor do que fazer poesia com a arte que eclodia nos becos e esquinas das ruas cariocas. Tempo para lá de dourado este!
    Jaque

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  3. Sabe que depois de ler e reler o livro comecei a me perguntar porque ele não fala da prostituição tão detalhada e abertamente quantos os outros personagens.
    Quer dizer, algum motivo muito escuso tem porque só faltou falar delas, praricamente!
    Até os catadores de papelão ganharam seu cantinho!

    Acho que ele era usuário dos serviços...

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  4. Erikota,
    João do Rio era gay. Não creio q devesse usar os serviços das "moças de vida (nada) fácil".

    Bjos!


    Clara

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