sexta-feira, 15 de abril de 2011

O aplauso do maluco


A tragédia na escola de Realengo, em que um atirador matou 12 crianças e feriu outras 11, deixou o país perplexo. E a cobertura que a imprensa tem feito do caso tem me deixado boquiaberta.

Dia após dia, manchete após manchete, levo um susto atrás do outro e vejo o desserviço que jornais, revistas, tvs e rádios estão prestando.

Tudo começa com o exagero na cobertura do fato em si. Em nome do "furo", do "inédito" e da audiência explora-se o choro, o desespero e a dor, entrevista-se toda e qualquer pessoa e repete-se a mesma pergunta tosca: "como você está se sentindo?".

Passado o dia do assassinato coletivo, começa-se a falar dos mortos. Mostra-se fotos, enterros, famílias desoladas. Invadimos a casa dos outros, aumentamos seu luto, pedimos depoimentos emocionados.

Depois disso, podemos falar do atirador. Era ex-aluno, sofria bullying, deixou um vídeo. O bizarro tem seu rosto exposto para quem quiser ver. Glamurizamos seu feito. Ele se torna a estrela. O ponto central de uma desgraça.

Não pensamos que, como ele, existem muitos outros doentes, movidos pelo ódio e incitados por redes obscuras escondidas no submundo da internet. E o que eles mais querem nessa sociedade de espetáculo? Serem vistos. E sua glória acontece quando um Wellinton Menezes faz o que fez e tem a repercussão que está tendo.

Nós da imprensa e da sociedade temos que repensar, e rápido, a maneira que estamos tratando casos como o da escola de Realengo. E precisamos urgentemente parar de bater palma para maluco, com o olhar tenso e o sorriso sádico de quem tem gosto pela dor.


Clara Araújo

Um comentário:

  1. Sem comentário, Clarinha! Arrasou. Tirou palavras do meu íntimo. É realmente a tragédia como glamour. Apenas como adeno: O que foi a Patrícia Poeta entrevistando a professora no Fantástico? Antes da entrevista começar tinha certeza que haveria a 'mão consoladora', e não deu outra....Queria uma aula com Sra. Sylvia agora....rs
    Jaque

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