terça-feira, 30 de novembro de 2010

O que não quer calar


É. Parece que acabou. A semana repleta de tiros, veículos incendiados e jornais pingando sangue passou e  agora podemos seguir nossas vidas, certo?

Pois é. Para quem não está acordando todos os dias com homens armados até os dentes na porta de casa, e para quem não está tendo sua casa revirada e, muitas vezes, saqueada, a guerra está vencida, os heróis declarados e já podemos pensar nos presentes de natal.

No entanto, os moradores das comunidades do Complexo do Alemão, da Vila Cruzeiro e da Penha, assim como tantos outros de outras comunidades pobres, estão vivendo um inferno. Vídeos com reclamações de moradores estão aparecendo. Denúncias de abusos de autoridade, vindo à tona. Isso tudo depois de viver dias de guerra.

Nossa polícia é históricamente mal preparada e truculenta. Sua ação depois dos seguidos ataques a veículos no Rio de Janeiro era necessária, mas eu pergunto: desde quando era sabido que o exército do tráfico existia? Certamente desde muito antes da última e derradeira semana. Então, por que não se fez nada antes nessas comunidades? Por que elas estão abandonadas pelo poder público há tanto tempo?

Perguntas que a gente sabe a resposta, mas que não fazemos muita questão de enxergar. Afinal de contas, o calor chegou, o céu está azul, o fim de ano está aí e daqui a pouco é carnaval.


Clara Araújo

3 comentários:

  1. Que existiam bandidos mega armados todos sabiam, assim como policiais fdp que abusam da insegurança e ingenuidade da população. Mas o que me pergunto e nao falam é de onde vieram tantas armas e de onde eles tiraram 33t de maconha, isso ninguem fala...acharam no morro...os traficantes deviam ter algo geração espontanea de drogas e armas, porque ninguém fala de onde vem...
    Gritando o silêncio - Shao
    Abraços

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  2. Ficar sem internet foi um problema para mim. Não lia notícias, não postava no blog e não lia o Aliás. E que boa surpresa chegar aqui e ver que o blog continua como sempre atualizado e suscitando um olhar tão apurado e crítico das coisas que nos acontecem.

    A quem diga que essas operações são criminzalizações da pobreza através de um discurso que romantiza gente pobre. E a quem ache o extermínio necessário. Eu prefiro balançar entre esses dois pontos e concordar com você que um problema como esse tem suas raízes históricas bem fincadas na terra sobre a qual construímos essa sociedade. E me irrita muito o discurso dos que dizem que o Estado está entrando na favela mas ninguém reclama de só entrar com a truculência policial e seus aparatos de guerra. Quanta logística para mobilizar uma operação tão grande para expulsar bandido. Decerto haveria sido menos desgastante cuidar do problema com as necessidades básicas a vida de todos como um hospital e uma educação de qualidade.

    Senti que nesse texto você falou muitas coisas que estão no senso comum e me lembro de como nossos intelectuais adoram tripudiar dele como se o que o povo diz ou o que os ditados falam não tivesse serventia. E o que mais gostei no texto foi o modo como você falou de coisas tão óbvias de um jeito que sempre que lemos ele se torna necessariamente crítico e solidamente verdadeiro.

    Desculpe o comentário gigante. Seus textos dão muito o que falar. Ainda mais o quando estou ouvindo um pagodiho da-que-les que eu tanto gosto. rsrsrs. Não se esqueça de me avisar sempre onde está escrevendo. Vou ler seus textos sempre e que bom que ainda se fazem jornalistas como vocês e a Jaque.

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  3. Thales!
    Q felicidade ter vc de volta nos comentários!
    Sentimos mta falta de vc por aqui!
    Seja re-bem-vindo!
    E, mesmo não atualizando o Aliás com a frenquencia q eu acredito q deveria, vou estar sempre escrevendo por aqui!
    Bjão!!


    Clara

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