terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Vai trabalhar, vagabundo!.

Pessoa cansada é fogo. Um ano sem férias efetivas, daquelas de 30 dias, me fazem valorizar ao máximo meus momentos de ócio. E me fazem pensar também nessa necessidade de trabalho incessante que existe hoje em dia.

As pessoas precisam produzir. Sem parar. Folgar virou luxo, quando deveria ser um dever. Porém, o que se vê é que cada vez mais as pessoas fazem mais horas extras, chegam mais tarde em casa e mais cedo no trabalho. Viver pra que?

Meu sonho de estagiária é chegar um dia no trabalho e ouvir: "Pode ir embora! Hoje você não trabalha de jeito nenhum!" Já pensou?? Ao contrário, o que mais se escuta é: "Mas você já vai?". Mesmo que você já esteja cumprindo além do seu horário e que não haja mais nada para se fazer.

Como Chaplin já mostrou linda e poéticamente em "Tempos Modernos", o capitalismo colocou os homens na linha de produção e eles aceitaram. Ficam aí apertando parafusos, mesmo que não existam parafusos para serem apertados. E, ao virar máquinas, perderam sua capacidade de raciocínio e revolta.

Aliás, o que você está fazendo parado aí? Vai trabalhar, vagabundo!



"Prepara o teu documento
Carimba o teu coração
Não perde nem um momento
Perde a razão
Pode esquecer a mulata
Pode esquecer o bilhar
Pode apertar a gravata
Vai te enforcar
Vai te entregar
Vai te estragar
Vai trabalhar"

Chico Buarque





Abraços,

Clara


4 comentários:

  1. Clarinha....realmente estou orgulhosa!
    hahhahaahahahah
    Lindo,lindo definiu a minha vida com a poética dos meus ídolos, sendo que o segundo despenso comentários, já que está marcado a "ferro e sangue" no meu corpo!!!
    Beijitos

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  2. "O capitalismo colocou os homens na linha de produção e eles aceitaram". Lapidar!

    Antes era o fordismo do Chaplin. O apertar de parafusos que, paradoxalmente, tornava o trabalhador mais uma microscópica engrenagem dentro de uma lógica de acumulação do capital e ainda assim o alienava do produto final de seu trabalho.

    Hoje, a lógica já é outra (para nós, já distantes do pátio da fábrica ou da lavoura). O importante é a versatilidade, a inovação. "Seja bom no que faz e você conseguirá se dar bem" é o que eles dizem. O que ninguém sabe é que essa é a nova forma de estruturação do trabalho. Num mundo todo interligado e complexo, é preciso ter mil e uma facetas que agradem a sobrevivência.

    Dizem os mais ferrenhos marxistas também que nem a folga, o lazer - como você bem observou, nosso por direito - já fazem parte do trabalho. A atividade produtiva não se restringe só à produção. O consumo e a reprodução de certos preceitos da lógica dominante constituem uma forma de agir no mundo e gerar capital - que agora não são somente as máquinas, os trabalhadores ou as instalações, mas as imagens e ideologias dominantes da economia.

    "Proletários de todo o mundo, uni-vos!"

    Desculpe, não pude evitar.

    Mais um ótimo texto, Clara.

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  3. Noto desde o segundo grau que eu não paro. Até bebendo uma cervejinha tenho que ter um sentimento de que estou aprendendo, trocando ideias, vivenciando algo PRODUTIVO. É impressionante a força dos discursos e o tempo que corre até o extremo de não nos deixar refletir. Estamos no automático, funcionando a todo vapor, personificando as máquinas que fazem desde o século XVIII a grande civilização progressista e ideal se manter. Esse filme é espetacular e você em um curto texto falou dessa correria de modo muito PRODUTIVO...rsrsrs...Até!

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  4. Apesar de não me enquadrar muito nessa descrição de "workaholic" que você fez, concordo plenamente que é uma loucura viver desta forma.
    Digo que não me enquadro porque tive férias recentemente. Aliás, as tenho toda hora.
    Mas não sou de todo uma aberração já que meus momentos de boréstia são constantemente estragados pela culpa de não estar sendo produtiva.

    Isso mostra o quanto somos complicados, nós seres humanos.
    Inventamos a remuneração - em dinheiro - para o trabalho para que pudéssemos sustentar nossos confortos e lazer (além das necessidades básicas, é claro). No entanto, nos enfiamos de maneira tão afoita nesta lógica que invertemos seu fluxo inicial.
    Hoje vivemos para trabalhar ao invés de trabalhar para viver.
    Afinal, de que adianta ter dinheiro sobrando sem ter tempo para aproveitar seus benefícios?

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