quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Um crime para comentar, e nem sempre um samba para distrair

Você está convidado a relaxar nas belas piscinas naturais de Maceió, a desfrutar praias de água morna e cristalina , e a sentir o frescor da brisa vespertina em deliciosas caminhadas pela orla marítima. Que tal? Gostou? Sair da tensão diária de viver em uma cidade como o Rio de Janeiro é tentador, mas nem sempre agradável, principalmente quando a policia civil do estado de Alagoas está em greve.
A precariedade do sistema de segurança pública do estado de Alagoas, só começou a ganhar notoriedade na grande mídia há menos de um mês, quando 140 assassinatos foram contabilizados só em janeiro de 2008. Vale a pena ressaltar: a contagem é de uma polícia que se dispõe a fazer somente 50 ocorrências diárias. Caso ocorram 51 crimes por dia, sinto muito, mas as metas já foram alcançadas. Volte bem cedo no dia seguinte, e quem sabe você conseguirá registrar a queixa.
O tom foi sarcástico, mas é a verdade. Em Maceió só são registradas 50 ocorrências por dia. Segundo a polícia militar, o registro de queixas é um trabalho da polícia civil. Para não deixar a população sem assistência devido a greve, a PM assumiu a tarefa de emitir o boletim de ocorrência, mas em curta escala.
Porém a atitude da policia militar, torna a criminalidade um problema menor do que realmente é. As estatísticas, uma vez que baseadas em dados emitidos pela polícia, retratam uma realidade que não condiz com a verdade. A manipulação não está apenas no controle das ocorrências emitidas, mas também na qualificação do crime. Os policiais consideram qualquer ato de subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem como furto.
No entanto, no campo das leis há significativas diferenças entre roubo e furto. No primeiro, o ato é seguido de grave ameaça ou violência, e a pena miníma é de quatro a dez anos de reclusão. No segundo, não há ameaça e é praticado às ocultas, a pena mínima é de um a quatro anos.
Os jornais locais, como a Gazeta de Alagoas, da Organização Arnon de Mello (que tem como proprietário o ex-presidente Fernando Collor) traz estampado diariamente em sua manchete casos de homícidio e chacinas. A pergunta que não quer calar é: E se fosse no Rio de Janeiro? As manchetes locais com certeza, já teriam ganhado o mundo, a Força Nacional já estaria nas ruas cariocas e a guerra civil anunciada.
A falta de visibilidade na mídia do problema vivido pelo estado de Alagoas, é um pequeno exemplo do carater elitista das grandes corporações de comunicação, que se concentram no eixo centro-sul do país. Fica claro que a notícia de um epsódio como o de Maceió, ganha muito mais repercussão quando atinge as regiões que abrigam o poder informacional, ecônomico e tecnológico, como o Sudeste.
A idéia de uma imprensa que resguarda os principios democráticos, e zela pelo bem estar de todo o povo brasileiro é utópica, assim como a tranquilidade e segurança de uma deliciosa caminhada pela orla maritima de Maceió.
Jaqueline Deister

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