quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Desabafo de uma brasileira!






Confesso que nos últimos meses tenho estado com o meu orgulho de ser brasileira ferido. Parece até que participamos de uma Copa do Mundo e perdemos, não é? Porque muitos só lembram e levantam a voz para gritar o nome do nosso país com louvor quando somos bem sucedidos em uma partida do “maldito” futebol. Aqueles que me conhecem sabem da minha paixão por esporte, mas os que me conhecem melhor sabem também o quanto fico aborrecida com este sentimento provocado pelo ópio do povo brasileiro.

Você já deve estar pensando que eu detesto futebol e que o texto será sobre isto. Enganado. Por incrível que pareça, gosto de jogar “o maldito”, só não gosto de assistir.

Todo esse papo não é em vão. Comecei pelo futebol porque sei que quando o Brasil fracassa em uma pelada, fere com o orgulho de uma boa parte da população. E estou me sentindo como esses viciados quando ficam “putos” porque o seu time perdeu. A única diferença é que perder ou ganhar numa partida de futebol não interfere em nada no rumo da vida do torcedor, enquanto perder ou ganhar no Congresso e no Supremo afeta diretamente a vida de muitos de nós.

Sou brasileira porque sou apaixonada pela nossa cultura que emergiu do submundo, pelas nossas terras que são sinônimo de tanta diversidade, mas admito que estou um tanto quanto desapontada com a nossa gente. Sim, este texto é um desabafo!

Primeiro, presenciei de mãos atadas o Ministro Gilmar Mendes juntamente com a sua trupe aprovar o fim da Obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, e vi a maioria dos estudantes aceitar isso de bico calado, pianinhos de cabeça baixa em seus cantos... parafraseando Chico Buarque:literalmente assistindo a Banda passar, pior que nem banda passou...

Pois é, vi a carreira que escolhi para seguir sendo totalmente deslegitimada diante dos meus olhos em pleno 6º período da faculdade. Desanimador, não? Pior ainda foi ler no Jornal do Brasil o artigo de um professor Pós Doutorado na Sorbone que faz parte do Departamento de Comunicação da minha Universidade:

“Então, para que servem as faculdades de jornalismo? A resposta é simples: para aprender a fazer um bom risoto. Se você tiver alguns professores acostumados com o manejo das panelas e outros bem informados sobre os temperos, talvez alcance o objetivo. Mas só vai completar o aprendizado quando chegar na cozinha e tomar uma bronca do chefe: o chefe de reportagem” (Felipe Pena- O Jornalismo e a Gastronomia)

Triste não se acreditar naquilo que faz, não é? Foi exatamente nesta frase que encontrei a resposta para continuar no meu curso. Graças à Deus, até o momento não tenho frustrações e posso falar de boca cheia: Gosto, levo à sério, acredito no que faço e defendo uma sólida formação, por isso me orgulho de sentar nas cadeiras empoeiradas do Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS) por quatro anos.

Para arrematar com chave de ouro o meu “amor” pelo Ministro Gilmar Mendes, folheando as páginas do jornal de hoje (02/09) me deparo com o seguinte título: “Gilmar manda à Câmara projeto que dá reajuste de 14% a ministros do STF. Salário iria de R$24,5 mil para R$27,9 mil, e teria efeito cascata.” Vocês sabem o que Mendes argumenta para defender este reajuste de 14% ? “O salário está defasado com a falta de aumento. O montante do reajuste corresponde à variação acumulada do IPCA nos anos de 2006, 2007 e 2008”, diz o Ministro. O valor, se aprovado, será incorporado gradualmente ao salário dos magistrados dos altos cargos públicos.

O valor do salário do STF serve como teto do funcionalismo público e o reajuste provocaria um efeito cascata na renda de outras categorias. Não, professores de plantão, aposentados e pensionistas, este reajuste não é para vocês, ou melhor, para nós. Apenas para os diplomados: procuradores gerais, juízes, Ministros de Superior Tribunal Militar, Superior Tribunal de Justiça e por ai vai... Nós, a ralé, temos que nos conformar, aplaudir e ficar muito felizes com o reajuste de 8,8% sobre o atual piso nacional fixado em R$ 464,72. Oba!!! Viva!!! O minimo vai subir R$ 41,18 e o máximo R$ 3,400. Pelo menos eles respeitam a semântica das palavras...

Tudo isso me desanima gente...Há algumas semanas presenciamos outro tapa na cara do brasileiro, nos chamaram de otários na lata e mais uma vez como foi a nossa reação: PASSIVIDADE. O arquivamento dos onze pedidos de investigação sobre o Presidente do Senado, José Sarney, com acusações de de nepotismo, tráfico de influência, desvio de recursos públicos e envolvimento com atos secretos, me fizeram perceber que o povo pouco se importa com o que os grandes fazem desde que não atinja diretamente a vida individual de cada um. A nossa indignação dura pouco, é só durante o tempo de folhear o jornal, ouvir no rádio e assistir ao Jornal Nacional. Depois, ah, não posso fazer nada mesmo! “Eles que são brancos, que resolvam” já dizia o ditado....

Agora, não tente mexer com o Futebol e com o Carnaval, porque o brasileiro vira bicho, o resto, tudo pode. Enquanto o movimento “Fora Sarney!” e “Diploma sim!” reuniram de 30 à 50 manifestantes, o “bloqueata”, mistura de bloco com passeata para protestar contra as novas regras que a Prefeitura do Rio implementou para o carnaval de rua do carioca no ano que vem, reuniu cerca de 500 pessoas pelo centro do Rio no domingo passado.

Por isso que estou tão desacreditada na nossa gente e fico muito triste em ver a minha terra pedindo socorro e eu, junto com meia dúzia de gatos pingados, não podendo fazer nada! Porque no final das contas, para a maioria das pessoas, tendo a cervejinha, o futebol, o Carnaval e “um bom risoto de frutos do mar”, basta! Pena que eu não aprendi a me contentar com tão pouco!

Jaque Deister

3 comentários:

  1. Belíssimo texto, Jaque. Intenso, sincero e direto. Bem vc mesmo.
    Tb fico meio besta de ver a inércia em q estamos. Sentamos na frente da TV e nos movemos apenas qdo tocam os tambores do Monobloco ou da Claudia Leite (eca!). Ou então qdo o nosso time está caindo para a 2ª divisão. Aí, minha querida, sai de baixo!
    Já disse alguém, que eu não me lembro quem, q se a gente tivesse a mesma paixão por política que temos pelo futebol, estariamos beeem melhores.
    E o Fora Sarney fez muito mais barulho no Twitter do q nas ruas. É sempre mais fácil colocar as barbas de molho do que as mãos à obra!
    Bjoca!

    Clara Araújo

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  2. É verdade, Jaque. Concordo com quase tudo!
    (Desteto o futebol mercadoria de hoje).
    Sabe, pior do que constatar tudo isso é ser uma das 30 pessoas de uma passeata que nem bloquar uma pista da Rio Branco conseguiu.
    Se eu fosse o Gilmar Mendes estaria extremamente ultrajada! Como assim, eu tiro o diploma deles e não ganho nem um rodapé no Globo??

    Tristeza... Ah! Já sei!!! Preciso abranger mais gente para isso. Vou aumentar o salário dos magistrados mais do que o de todos os outros trabalhadores! A-ha!!!!
    Será que ganho do Sarney?

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  3. Admirável pela clareza e objetividade. Verdades,que não podem ser negadas, foram colocadas no artigo de uma forma que faz com que se pense mais na realidade de um povo que valoriza apenas aquilo que não leva ninguém a lugar nenhum.O poder descarado e corrupto de muitos fazem da nação uma piada de péssimo gosto para o mundo.

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