terça-feira, 30 de novembro de 2010
O que não quer calar
É. Parece que acabou. A semana repleta de tiros, veículos incendiados e jornais pingando sangue passou e agora podemos seguir nossas vidas, certo?
Pois é. Para quem não está acordando todos os dias com homens armados até os dentes na porta de casa, e para quem não está tendo sua casa revirada e, muitas vezes, saqueada, a guerra está vencida, os heróis declarados e já podemos pensar nos presentes de natal.
No entanto, os moradores das comunidades do Complexo do Alemão, da Vila Cruzeiro e da Penha, assim como tantos outros de outras comunidades pobres, estão vivendo um inferno. Vídeos com reclamações de moradores estão aparecendo. Denúncias de abusos de autoridade, vindo à tona. Isso tudo depois de viver dias de guerra.
Nossa polícia é históricamente mal preparada e truculenta. Sua ação depois dos seguidos ataques a veículos no Rio de Janeiro era necessária, mas eu pergunto: desde quando era sabido que o exército do tráfico existia? Certamente desde muito antes da última e derradeira semana. Então, por que não se fez nada antes nessas comunidades? Por que elas estão abandonadas pelo poder público há tanto tempo?
Perguntas que a gente sabe a resposta, mas que não fazemos muita questão de enxergar. Afinal de contas, o calor chegou, o céu está azul, o fim de ano está aí e daqui a pouco é carnaval.
Clara Araújo
sábado, 20 de novembro de 2010
Todo dia é dia!
Sem distinção de cor.
A miscigenação é a base do Brasil!
Sem distinção de raça.
Afinal, antes de negros, brancos, amarelos e mulatos: SOMOS HUMANOS!
Jaque Deister
domingo, 7 de novembro de 2010
Licença poética - ou - Declaração de amor.
Peço licença aos leitores do Aliás para falar um pouco sobre mim. E faço isso por que os pensamentos que irei expor aqui surgiram em formato de texto em minha cabeça faz dias. É algo que precisa ser colocado pra fora e que está sendo trabalhado em palavras por mim sem muita pretensão.
Namoro faz quatro anos num relacionamento construido a distância. Isso por que, há quatro anos, passei na faculdade de jornalismo e me mudei para Niterói, RJ. E meu namorado mora em Guaratinguetá- SP. Loucura? Pode até ser.
Mas acho que essa foi a loucura mais certa que já fiz na vida. Não que minha vida seja rechada de atitudes impensadas. Aliás, longe disso. Sempre fui muito comedida, recatada, comportada. E houve um tempo que isso me fez mal. Hoje, não mais. Mas essa é outra história.
Voltando ao meu namoro, mesmo ele sendo vivido de maneira virtual quase que integralmente, o que conseguimos construir foi algo tão real e sólido que me emociona até mesmo nos meus momentos mais céticos.
Somos companheiros um do outro. Nossa companhia, muitas vezes, nos basta. Rimos das mesmas besteiras, pisamos um mesmo chão, não sonhamos os mesmos sonhos, mas sabemos respeitar nossas diferenças.
Passamos por crises, umas mais tensas, outras mais sérias. Mas o bom é que elas passam. E hoje, creio, estamos na fase do "re".
Depois de quatro anos, resolvemos reaprender um sobre o outro. Queremos revisar nossos conceitos, redescobrir nossos segredos, retirar o que atrapalha e nos reapaixonar pelo amor que sentimos para fazê-lo ainda maior.
Isso se faz necessário para que o nosso relacionamento se renove, se recrie, se reinvente. E para que a gente siga construindo esse caminho longo que se trilha.
Talvez esse homem que eu gosto tanto esteja lendo esse texto e sentindo uma certa timidez por ver um pedaço de nossa vida exposta. Talvez não. Mas o fato é que, como eu disse no início, senti muita necessidade de expor esse meu sentimento. E talvez isso faça parte dessa minha reavaliação.
O que importa é que, assim, seguimos. Até os 120 anos.
Clara Araújo
terça-feira, 28 de setembro de 2010
"Dias melhores virão." Será?
domingo, 19 de setembro de 2010
Uns iguais aos outros
Nas últimas quinta e sexta-feira, 16 e 17 de setembro, participei do seminário de capacitação da Rede de Radialistas no Enfrentamento à Violência contra a Mulher, aqui no Rio de Janeiro. Confesso que fui sem muitas espectativas, muito por que estava tomada de um pré-conceito de que ser feminista era ser radical - no mal sentido da palavra - e sectária. E, como já está óbvio, não foi isso que encontrei. Muito pelo contrário.
Para começar, uma das palestras do primeiro dia do encontro foi com o psicólogo Eduardo Worms, do Instituto Noos, que trabalha com a questão da violência contra a mulher através do olhar masculino. E só com essa palestra meus pré-conceitos já cairam por terra.
Eduardo mostrou como o homem, mesmo sendo agressor, muitas vezes sofre com a situação, mas não sabe como resolvê-la. Além disso, o psicólogo mostrou que nós, mulheres, acabamos não entendendo direito o universo masculino e forçando situações que geram raiva, estresse e ansiedade.
Como exemplo, Eduardo Worm disse que, para um homem, é muito mais fácil calar do que falar. Enquanto para nós, mulheres, o silêncio tende a ser incômodo. Por isso, acabamos forçando para que o homem que está ao nosso lado fale, converse, quando, na verdade, o que ele mais precisa é ficar quieto no canto dele.
Antes que me crucifiquem e digam que estou defendendo quem agride e dizendo que a culpa de toda agressão é da mulher, eu esclareço: não é isso o que estou falando. Estou apenas dizendo que toda relação é feita de, no mínimo, duas pessoas. E que, muitas vezes, fechamos os olhos para o outro e esperamos que esse outro faça coisas que, para nós, são completamente normais e necessárias. Mas não pensamos que para ele isso talvez não seja.
Mas, voltando a palestra, o psicólogo também apresentou dados que demonstram o tipo de sociedade que estamos formando. Segundo pesquisa do Instituto Noos, em geral, o autor de violência foi, em sua infância, vítima de violência. Desses, 72% se lembram de ter visto ou sofrido algum tipo de agressão dentro de casa. E isso me faz pensar no tipo de educação que damos às crianças. Mas isso é e já foi assunto para outro post.
Por fim, registro aqui outros dados assustadores sobre a violência contra a mulher:
- De cada 10 casos de violência contra a mulher, sete foram cometidos por pessoas de conhecimento íntimo (maridos, namorados, amantes, etc);
- No Brasil, a cada 15 segundos uma mulher é vítima de violência;
- Estima-se que mais da metade das mulheres agredidas não denunciem seu agressor.
Por fim, fica a mensagem: toda forma de violência contra a mulher é crime e deve ser denunciada. Mais do que isso, deve ser combatida. Por mulheres e homens. Afinal, somos todos iguais, certo?
(Ah! E antes que eu me esqueça. Você, paulista, que vota em SP e que está lendo esse post, vale a pena ler esse outro aqui também. Trata-se de uma "campanha" para que o Netinho de Paula, não seja eleito senador por SP - aliás, nem por SP, nem por lugar nenhum. Um cara que a acha que a violência resolve as coisas, não pode nos representar!)
Clara Araújo
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Nem tudo é verdade.
A campanha eleitoral corre solta e, enquanto candidatos bizarros ganham mídia e votos, um pseudo-escândalo vem à tona dos jornais. A suposta quebra de sigilo feita nas declarações de imposto de renda da filha de José Serra e do vice-presidente do PSDB demonstram o quanto podem ser - e são - sujos os jogos políticos.
Dizem que quem pediu a quebra de sigilo, feita de maneira totalmente artesanal e amadora, foram os partidários de Dilma Roussef, do PT. Isso teria sido feito como ferramenta para atingir José Serra, candidato da oposição.
Agora pense comigo: por que alguém do PT, ou seja, alguém do governo, teria o trabalho de pedir para um cidadão falsificar uma assinatura e ir a uma agência da Receita Federal de Mauá, em SP, fazer o levantamento das contas de Veronica Serra? Para que esse trabalho todo se o PT, como governo, tem total possibildiade de fazer isso sem chamar atenção, indo direto na fonte? Só se quiser mesmo ser descoberto...
E tem outra, a troco de que a campanha de Dilma, que se aponta vitoriosa desde o início, precisaria dessa "carta na manga"? Quem acompanha as pesquisas já viu: Dilma ganha no primeiro turno, a menos que uma ... porcaria muito grande aconteça.
Então, meus caros, antes de atacar quem quer que seja e acreditar no que diz o Jornal Nacional, pensem bem em quem realmente é privilegiado com esse "escândalo". Pensem que nem todo mundo que está no governo é mau. E nem todo mundo que está na oposição é bom. E quem tem que enxergar a verdade dos fatos é você, como eleitor e cidadão.
E antes que me digam que estou fazendo campanha para o PT, quero deixar claro: meu voto não é da Dilma.
Abraço!
Clara Araújo
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
A Culpa é do Fidel!
domingo, 22 de agosto de 2010
Mais uma face da miséria
A foto que ilustra esse post foi feita por Erika Vettorazzo.
Boa leitura!
A mendicidade é a exploração mais regular, mais tranqüila desta cidade. Pedir, exclusivamente pedir, sem ambição aparente e sem vergonha, assim, à beira da estrada da vida, parece o mais rendoso ofício de quantos tenham aparecido; e a própria miséria, no que ela tem de doloroso e de pungente, sofre com essa exploração (Trecho de "As mulheres mendigas", do livro "A alma encantadora das ruas", de João do Rio")
Sentada à frente da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na Rua Uruguaiana, Margarida de Carvalho pede esmolas. Mineira da cidade de Cajuri, Margarida mora há 50 anos no Rio. Ela conta que veio para a cidade após ser doada para uma família carioca.
Mãe de três filhos, Margarida é moradora de Madureira. Sua casa foi construída com o dinheiro que ganhou na rua. Primeiro como catadora de papelão e, depois, devido a um atropelamento, como pedinte. Antes disso, Margarida trabalhou como empregada doméstica. “Parei de trabalhar com isso por que patrão explora muito”.
A imagem de Margarida parece um retrato fiel daquilo que se imagina de quem vive na mendicância. Com aspecto frágil, curvada aos pés de uma igreja, ela usa várias saias, uma por cima da outra. Na cabeça, um lenço esconde os cabelos bancos que insistem em sair próximos à orelha. Veste uma blusa branca e um chale marrom. Ao seu lado, um copo de plástico com algumas moedas demonstra que o dia não está dos mais rentáveis. Porém, para pedir, Margarida não usa de lamentos ou súplicas, não “chora humildades”. Apenas chacoalha o copo e, com sorte, o dinheiro surge.
Um dos filhos de Margarida é contador. Outro trabalha como pedreiro. O mais velho, morreu. Os três estudaram e conseguiram se formar graças ao dinheiro conseguido pela mãe nas ruas. “Meu filho fala que é para eu sair dessa vida. Mas eu gosto de ter meu dinheiro”, diz. Quando perguntada se não tem medo de sofre algum tipo de violência, Margarida afirma que não há muito perigo na região que ela fica. “Estou em frente à igreja e o povo respeita. Além do mais todo mundo aqui me conhece”. Ou, como diz João do Rio, Margarida escolheu seu “ponto livre de imprevistos”.
Terminada a entrevista, confirma-se aquilo que Margarida diz: pelo menos cinco pessoas que estavam ao redor se aproximam dela para saber o porquê de tantas perguntas.
Clara Araújo
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
De outra maneira, de outro modo.
Jaque e eu estamos há tempos querendo dar um ar mais modernozo ao blog. Por que, mesmo com as postagens raras, esse é um espaço que privilegiamos muito e o qual queremos muitíssimo bem. Mas, sabe como é: faculdade, monografia, emprego, estágio, a chuva que cai lá fora e nos convida para o sofá com bobagens na tv... Enfim, são vários os motivos que nos fizeram postergar as mudanças.
Mas agora o Blogger está bacanudo e a gente pode finalmente mudar sem deixar de ser a gente mesmo e sem sofrer tentando aprender códigos de HTML e afins.
As mudanças foram poucas, mas já são um começo.
Estamos felizes com os novos ares que dão frescor ao nosso blog e esperamos que vocês, nossos leitores, também gostem. E já que estamos em épocas de boas novas, farei aqui uma promessa de blog novo: postaremos mais!
Enfim, é isso.
Boas vindas ao nosso novo blog velho ou ao nosso velho blog novo!
Beijos a todos,
Clara Araújo
segunda-feira, 21 de junho de 2010
"Um Rio onde tudo é música"
Enquanto tento conversar, Renê, trompetista desde a adolescência, ensaia acordes em cima da música que toca na caixa de som, comandada por Dalva. “Ela é meu braço direito”, diz Renê. ”Braço direito, esquerdo, mãos, pés...”, completa a mulher, que ajeita cuidadosamente os CDs expostos para a venda.
Entre um sopro e outro, o trompetista me conta que é músico desde a infância. Quando criança, tocava pandeiro no grupo da família. Cansado do batuque, resolveu que iria aprender trompete e aprendeu. “Sou autodidata”, salienta.
Depois disso, tocou por sete anos com a banda “Alma Latina”, fundada por ele. “Fazíamos shows, tocávamos bastante. Mas o grupo foi se tornando maior do que eu, então decidi sair”, relembra. Hoje, com três CDs gravados e compostos por ele, Renê diz que é na rua que consegue ganhar dinheiro para complementar a aposentadoria de soldado do exército.
Aos 68 anos, o músico afirma que passa o dia todo tocando. A praça XV é o ponto da manhã. Depois, geralmente segue para o Largo da Carioca. “Cada músico da rua tem seu ponto e se respeita. Se respeita e se ajuda”, diz.
- Por que o senhor só toca nas ruas?, pergunto.
- A rua é encantadora. Não há lugar igual. E nas ruas do Rio encontrei pessoas incríveis. Gente que se ajuda, que conversa. Fiz grandes amigos trabalhando por aqui. Eu estou na rua mas sinto na sala da minha casa.
Fim da entrevista.
Não encontro neles nenhuma ânsia de miséria, nenhum piresinho de metal desejando qualquer moeda. Nada daquele sonho romântico que relega aos músicos o destino de morrer de fome e viver de ilusão. O casal está à vontade e parece feliz.
Como num “gran-finalle”, Renê tira sua mulher para dançar. E, quando estamos saindo, ele grita:
- Depois manda umas fotos. É pra gente colocar no site.
Clara Araújo
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Pedaços do Brasil

O ponta pé inicial e a viagem
Tudo começou no inicio de 2009 quando uma amiga, que agora já está formada em Jornalismo, me fez a proposta de encarar uma viagem para Oriximiná-PA com o intuito de desenvolvermos uma série de projetos documentais. Eu, que nem gosto de aventura, topei na hora. A partir daí criamos uma pequena equipe e nos debruçamos sobre pesquisas para saber mais sobre a região e as dificuldades que encontraríamos por lá.
O município de Oriximiná é tão rico que foi difícil estabelecer um único tema para trabalharmos. As questões indígena e quilombola foram as que mais se sobressaíram ao longo dos cinco meses de pesquisa que fizemos. Optamos pelos quilombos por viabilidade para a realização das nossas filmagens e pelo fato desta região reservar 43% da dimensão de terra quilombola o país.
Viajamos no dia 20 de setembro em um Hércules, avião cargueiro da FAB. Depois de aproximadamente seis horas, avistamos uma paisagem fantástica que já está um tanto quanto batida para vermos pela televisão ou por foto, mas que mexe e arrepia qualquer um que se depara pela primeira vez com hectares e hectares de uma mata densa e fechada cortada por um rio enorme. A Floresta Amazônica se materializa imponente e ao mesmo tempo vulnerável diante dos nossos olhos. Difícil descrever a sensação.
Quilombola?

No entanto, diversos quilombos surgiram pelo território brasileiro. Rio de Janeiro, Pará, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Goiás, Bahia e Mato Grosso são alguns dos estados onde existem comunidades quilombolas.
O que poucos sabem é que os quilombos existem até hoje. Muitos descendentes de escravos procuram manter boa parte da tradição herdada pelos seus ancestrais. Nós fomos atrás justamente dessa resistência e memória que persiste mesmo em um mundo pós-moderno, cuja logomarca é a tecnologia.
Hospitalidade e solidariedade. As palavras definem o que mais encontramos ao longo do trabalho, foi a primeira característica que notei assim que chegamos na comunidade quilombola de Jauari, onde moram cerca de 160 pessoas. Após cinco horas de barco subindo o rio Erepecuru avistamos as casas de palafita que fazem parte da comunidade.
O estilo de vida e a organização social diferem muito da cidade. A coletividade é muito forte por lá, os remanescentes de escravos fazem multirões para limpar o espaço comum no quilombo.
Ficamos hospedados na casa do Seu Zé e da D.Maria, com eles aprendemos que o quilombola que mantém as suas tradições, acorda as 4hs da manhã para ir pescar o almoço; se embrenha no meio da mata para pegar a castanha-do-pará; come tracajá (tartaruga); faz farinha de mandioca; dança o Aiué; toma banho na beira do rio e utiliza fossa para as necessidades fisiológicas.
A televisão no Quilombo
Um ponto que sempre estimula a curiosidade é o relacionamento dessas comunidades rurais com as tecnologias da vida urbana. A maioria das casas, por mais simples que sejam, possui um aparelho de televisão.
Como a energia elétrica funciona à base de um gerador doado pela prefeitura, a televisão só é ligada na parte da noite. A programação começa a partir das 19hs na Rede Globo e nela continua até aproximadamente às 22hs, horário de desligar o gerador.
O programa predileto é a novela das 19hs, e dá para entender claramente o porquê. Estas novelas têm o seu enredo marcado pela comédia e banalidade do dia à dia. De uma certa forma é mais fácil se identificar com este universo do que com a utopia trazida pela novela das “8”, na qual os personagens vivem em casas cinematográficas e na ponte aérea entre Brasil-Europa.
Donos da terra

Dona Madalena é um exemplo. Moradora da Comunidade de Jauarí, ela tem 53 anos, um filho e recebe R$ 82 por mês do bolsa família, o quê complementa o orçamento é a venda de farinha, que acrescenta R$50. De acordo com ela, não ter que gastar muito dinheiro com comida já é uma boa economia.
Porém, os quilombolas precisam de dinheiro para abastecer o gerador de energia, o combustível para o barco e suprimentos básicos que não “vingam” na terra do Quilombo. O posto de saúde que existe na comunidade é habitado por morcegos e está totalmente abandonado pela prefeitura. No caso de precisarem de um atendimento médico, terão que percorrer o rio Erepecuru por cinco horas até chegarem na cidade.
Não é uma vida fácil. E por mais que eu tente retratar o que foi conviver com estas pessoas nunca será próximo o suficiente para que você mergulhe também nesta realidade. Tudo isso mostrou para mim que de fato há vários Brasis espalhados pelo nosso território. É curioso como poucos conhecem a diversidade do país, mas como todos vestem a camisa verde e amarela e batem com a mão no peito tendo orgulho de ser brasileiro. O que é ser brasileiro, afinal? Ganhar uma partida de futebol?
*Fotos do Quilombo de Jauarí: Luiz Guilherme Fernandes.
*Equipe: Fabio Sander, Jaqueline Deister, Luiz Fernandes e Pâmela Souza.
Equipe de apoio: Erika Vetorazzo e Fábio Souza.
*Agradecimentos:
Comunidade Quilombolas de Jauarí, Boa Vista e Água Fria;
Comunidade Ribeirinha do Ajará;
Força Aérea Brasileira;
Unidade Avançada José Veríssimo;
Universidade Federal Fluminense.
Parte do material produzido em Oriximiná já pode ser acessado:
Ensaio fotográfico do Quilombo de Jauarí
Reportagem de rádio Comunidade do Ajará
Jaqueline Deister
quinta-feira, 27 de maio de 2010
O homem e os seus demônios
A arte de se despir
O contato com pessoas que não pertencem a nossa “bolha social” ressalta o quanto, apesar de bem informados, ainda somos restritos e medíocres. Mostra que a generalização não é a mãe de toda a sociedade, como muitas vezes somos levados a acreditar, e rompe com a ideia errada de que nada é bom o bastante para ser publicado, pois todos já viram, ouviram falar ou leram tudo o que você pensa. Importante saber que este “todos”, insignificante, é espelhado em você e naqueles que compartilham da mesma atmosfera intelectualizada que a sua.
Por mais que você estude os problemas sócio-econômicos, leia os jornais diariamente, enverede na militância política são poucos os que conseguem produzir um conteúdo de qualidade para fora da sua “bolha”. Há um egoísmo e um espírito de soberania que faz com que jornalistas escrevam para jornalistas, sociólogos escrevam para sociólogos e escritores para escritores, sempre querendo ser o mais inovador, o mais lúdico e intelectual possível. Porém, esquecendo que se tornam aquilo que mais criticam: segregacionistas .
Poxa, temos (me incluo também) que deixar esse rebuscamento um pouco de lado e SENTIR que os leitores vão além do pequeno mundinho ao qual estamos inseridos. O intelectualismo em excesso censura a imaginação para a produção de bons textos, boas peças e bons roteiros, que podem pecar pela falta de teoria para a Academia, mas que conseguem trazer valores em suas obras de maneira sútil e conquistar diferentes platéias através da simplicidade na linguagem. Não seja prepotente para julgar os outros por você mesmo e tampouco aja como autocensor do único espaço onde você pode de fato ser LIVRE.
Jaque Deister
quarta-feira, 5 de maio de 2010
"Pelas ruas de João do Rio"

Desde o ano passado, quando tive que decidir sobre o que seria meu trabalho de conclusão de curso, um homem tem ocupado meus pensamentos. Acalmem-se, mentes maldosas! Eu não estou falando de nenhum fetiche erótico ou de algum pesadelo com meu orientador (aliás, pode parecer puxassaquismo, mas eu adoro o professor que me orienta nesse final de faculdade). Trata-se de João do Rio, jornalista, cronista e meu tema de estudo.
João do Rio nasceu João Paulo Alberto Coelho Barreto, em 05 de agosto de 1881. Filho de classe média - seu pai era matemático e sua mãe, atriz - em 1903, passou a adotar o pseudônimo que virou praticamente seu nome. Aliás, me arrisco a dizer que nenhum outro pseudônimo traria melhor definição para o homem que retratou a então capital nacional com tanto cuidado e detalhamento.
O talento para o jornalismo e para a crítica surgiu cedo para o escritor. Aos 18 anos, teve sua primeira crônica publicada. Nessa mesma época, publicou seu primeiro conto, abordando a repressão e o desejo homoerótico de um ancião. Isso, pra quem ainda não fez as contas, aconteceu em 1899.
Sim, senhores, João do Rio foi inovador. Inovador, como se pode ver, principalmente, pelos temas abordados em suas crônicas e reportagens. Foi ele um dos primeiros a sair da temática das festas e reuniões dos salões da elite carioca para cair nas ruas.
A vida urbana das pessoas comuns do Rio de Janeiro está ricamente retratada no livro "A alma encantadora das ruas". Alí, João do Rio mostra quem eram as pessoas que faziam a cidade funcionar. Tatuadores, trabalhadores do porto, rezadeiras, músicos. Praticamente todos os personagens das ruas do Rio estão neste livro. E João do Rio, apesar de gostar do glamour da vida high socity, não deixa de visitar nem mesmo as vielas onde se escondem os "comedores de ópio" ou as prisões, chamada pelo autor como o lugar "onde às vezes termina a rua".
Aliás, voltando ao glamour dos salões cariocas do início do século XX, o que será que pensariam os frequentadores destes locais ao lerem uma crônica que se incia da seguinte maneira: "Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilahdo por todos vós". Não sei vocês, mas eu posso ouvir o "Oohhh!" ecoando entre a fumaça de charuto dos homens sábios da época.
Enfim, pra resumir a história, João do Rio foi um homem que inovou. E que agora, parece estar sendo redescoberto por muita gente. A prova disso foi o enredo da Império Serrano este ano, chamado "João das ruas do Rio". E, se você ainda não conhecia nada sobre ele, aproveite o embalo, faça uma busca no Google e boa leitura!
Clara Araújo
terça-feira, 6 de abril de 2010
As águas de abril por Niterói




Á água chegou com vontade no Rio de Janeiro e na Região Metropolitana. A chuva causou uma desordem comparada a uma guerra. Na noite de ontem, em Niterói, a hora do rush se estendeu das 18hs até as 23hs devido aos alagamentos e bolsões d' água que se formaram pela cidade.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Meninos, eu vi.

Dia desses fui assistir a um evento universitário na minha cidade, Guaratinguetá. Tratava-se uma corrida de carrinhos de supermercado organizada por uma das muitas e tradicionais repúblicas existentes em Guará.
Além de ser engraçada e divertida, a corrida tem como função ajudar a integrar calouros e veteranos da faculdade. Legal, se pensarmos por esse lado. No entanto, para além do evento, da confraternização e da diversão, o que eu vi não teve nada de engraçado.
O fato de a largada estar marcada para a meia noite e ter sido feita às duas da manhã foi um detalhe que me ajudou na observação de como os veteranos se relacionam com seus calouros - aqui em SP, carinhosamente chamados de "bixos". Nesse meio tempo de espera, pude ver demonstrações de como pode um ser-humano ser babaca e infeliz por achar que sabe mais do que o outro.
Vejamos alguns exemplos.
Um grupo de três "bixos" eram obrigados a fazer "paga-dez" no meio da rua enquanto seus veteranos gritavam em seus ouvidos no melhor estilo "Tropa de Elite". Ali, o que me chamou atenção não foi nem tanto a "prenda" destinada aos meninos, mas o olhar e a pose de general do veterano mandão. O cara se achava o máximo fazendo aquilo e os que estavam em volta dele também. Humilhar o outro gerava prazer.
O segundo fato ocorreu durante a corrida. Enquanto os calouros - um dentro do carrinho e o outro empurrando - se esforçavam e se arriscavam para ganhar sabe-se lá o que, os veteranos corriam ao lado dando """incentivos""" como "Vai, bixo filho de uma rapariga de estrada!" (Ok. A linguagem não foi bem essa, mas foi isso que ele disse).E, mais uma vez, o olhar de ódio, poder e grosseria voltava a reinar.
Confesso que me diverti com a corrida. Mas me assustei ao ver, na prática, algo que sempre detestei: o trote universitário.
Fico pensando o que faz uma pessoa se achar superior a outra a ponto de pensar que pode humilhá-la sem que nada aconteça com ele. E o pior: é fato que os "bixos" de hoje, que passam por isso, serão aqueles que, no ano que vem, irão reproduzir essa prática em nome de uma tradição tosca.
Antes que alguém me crucifique, quero deixar registrado que não são todos os veteranos que se relacionam assim com seus calouros aqui em Guará. Há aqueles que fazem do trote uma brincadeira, um ritual de passagem que eu até acho bacana para quem topa passar por ele. Agora, o que não dá para achar bonito são essas demonstrações públicas de humilhação e grosseria.
Eu sei que vão existir pessoas que podem falar que o trote já foi muito mais violento, que hoje não há tanta coisa pesada. Ok. Talvez não seja tão cruel como antes. Mas a vontade de se fazer "Homem" e "Forte" diante de um outro, ainda perdido diante de uma nova realidade, existe, é real e eu vi.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Melhor ser multado
A prefeitura do Rio de Janeiro montou uma péssima estrutura de limpeza. Não há equipes de funcionários para limpar os banheiros e o número de lixeiras está limitado demais. Consequência? As fotos abaixo.
Será que o Sr. Eduardo Paes preferiria ser multado ao fazer "pipi" no cantinho da rua, ou utilizar o bélissimo sanitário que encontramos na cidade?
Vamos nos preparar, isso é só o começo: Olímpiadas e Copa do Mundo, lá vamos nós!
"Vou festejar o MEU sofrer, o MEU pesar"
Fig. 1 Banheiro químico na Lapa
Fig.2 Lixo pela Avenida Rio Branco
Jaque Deister
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Africanear
Os estereótipos reproduzidos de uma África do Sul pobre, repleta de leões e selvagens ainda habita o imaginário de muitas pessoas que tem uma visão homogênea de todo o continente e desconhecem o potencial do país.
As semelhanças com o Brasil não são mera coincidência, muito do Rio de Janeiro, por exemplo, está em Cape Town. A beleza natural da cidade, cercada de cadeias montanhosas e belas praias remete a um cartão postal para lá de carioca.
O Pão de Açúcar se transforma em Table Mountain, a Lapa em Long Street, a Feira Hippie de Ipanema em Green Street Market, a Barra da Tijuca em Green Point, a Rocinha em Langa, Santa Teresa em Boo-Kaap e assim sucessivamente.
Cape Town é chamada por seus habitantes de “A cidade mãe da África”, pois ela é economicamente mais rentável devido ao turismo, fato que pode ser constatado por quem passa a alta temporada por aqui. Alemães, ingleses e agora brasileiros são os que mais abarrotam o país. De acordo com os próprios europeus, eles escolhem a África do Sul como destino para escapar do inverno rigoroso que se espraia por toda a Europa.
Sou suspeita para falar, mas a viagem vale muito à pena. A força economica da África do Sul é surpreendente, principalmente por conta do apartheid ser tão recente, mas isto é conversa para um próximo post.