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Esvaziando o forno de carvão |
Para falar a verdade quero mais. O trabalho do sonho da jornalista aqui é produzir um documentário a respeito do que meus olhos tem observado ultimamente. No entanto, tudo tem a sua hora.
O vilarejo
No post de hoje vou dividir com vocês um pouco da experiência que tive no interior do Sul da Bahia, num povoado dominado pela atividade carvoeira chamado Taquari.
Localizado a aproximadamente 990km do Rio de Janeiro, no interior da floresta de eucaliptos, o vilarejo que concentra cerca de duas mil pessoas se caracteriza por ser um dos pólos de exploração do carvão no Sul da Bahia. Segundo estimativas da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Taquari, há mais de 150 fornos na região que são controlados por famílias que vêem a atividade como principal fonte de renda e sustento.
A exploração do carvão é fruto da grande quantidade de eucaliptos que rodeia o vilarejo. A maior parte da área em torno da comunidade pertence a Suzano e a Fibria, duas empresas multinacionais que produzem papel e celulose para a exportação.
A relação entre o povoado e as companhias é marcada pelo conflito. O processo de automoção da mão-de-obra foi o fator essencial para o descontentamento da população. Inúmeros trabalhadores que se especializaram na derrubada de árvores pela motoserra perderam seus empregos com a chegada do trator florestal (harvester). A substituição do corte manual pelo mecanizado representou um expressivo aumento na lucratividade destas empresas, já que uma máquina é capaz de realizar o trabalho de cerca de 25 homens.
Driblar o desemprego e os riscos diários
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Produção de carvão em Taquari - BA |
O carvão foi a saída para muitos desempregados. Famílias começaram a investir fortemente na fabricação de fornos próprios, tornando-se trabalhadores autônomos. Apesar de terem mais flexibilidade de dias de trabalho, o que faz com que muitos não queiram abandonar a atividade, o carvoeiro trabalha na ilegalidade e expõe constantemente a sua saúde durante todo o processo de produção.
De acordo com estudos realizados pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, a fumaça do carvão possui substâncias genotóxicas que aumentam significativamente os riscos de câncer no pulmão. Além disso, a poluição pelos resíduos dos fachos também pode causar doenças ligadas aos aparelhos cardiovascular e respiratório.
Outro risco é a picada dos escorpiões que se escondem entre as toras. A incidência deste acidente é alta na comunidade, os carvoeiros não utilizam equipamento de proteção para a extração da madeira o que os torna ainda mais vulneráveis durante o trabalho.
O dia a dia
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Descanso |
O esforço físico demandado para esta atividade é muito grande. Ao acompanhar a rotina de duas irmãs, foi possível concluir que o trabalho na carvoaria é um dos mais extenuantes que se possa ter. A jornada dessas mulheres começa às 5 horas da manhã e vai até as 15 horas, com atividades que vão desde retirar as toras de madeira da floresta, encher o forno vazio e colocar o carvão já pronto nas redes para aguardar o comprador.
A esperança
O sonho de sair desta vida é o que incentiva alguns carvoeiros que querem uma estabilidade maior no futuro. Aproveitar a alta do carvão é o melhor momento para fazer o 'pé de meia', dizem as irmãs. Em fevereiro deste ano, os carvoeiros estavam vendendo o metro cúbico do carvão vegetal por R$ 90,00. Com este preço, uma família com dois fornos fatura uma média de R$1.600,00 por mês. No entanto, na maior parte do ano esta não é a realidade destes trabalhadores que muita das vezes chegam a produzir, mensalmente, apenas R$ 400,00.
O inimigo oculto
Porém, infelizmente, boa parte dos carvoeiros não sabe aproveitar a alta do produto para poupar dinheiro e acaba gastando o salário obtido nos bares de Taquari. Desfrutar os prazeres momentâneos, como o álcool, principalmente, é o que impede a melhora de vida da maioria, que mesmo ganhando R$ 2.000,00 por mês, continuam vivendo em situação de extrema miséria.
Jaque Deister