
Semana passada vi no
Jornal Hoje, da Rede Globo, uma notícia que me fez rir da politicagem realizada no Brasil. O riso foi um misto de raiva e indignação, mas, como diriam no Twitter, #euri.
A pauta da reportagem era a seguinte: está rolando no Congresso Nacional um projeto de lei que prê que profissionais da beleza - cabeleireiros, manicures, pedicures, etc - tenham algum tipo de certificação para poderem exercer a profissão. O projeto já foi aprovado na Câmara e agora só falta o Senado dar seu aval.
De acordo com a
reportagem, a condição para continuar no mercado é ter concluído, pelo menos, a 8ª série do Ensino Fundamental, além de fazer cursos em instituições legalmente reconhecidas. Ainda segundo o Jornal Hoje, só estaria dispensado de fazer os cursos de qualificação quem está na área há, no mínimo, um ano.
Há ainda depoimentos de uma proprietária de salão de beleza, além de uma dona de casa que faz as unhas com uma manicure.
Vejam o que elas dizem:
Proprietária de salão:
“Se você não tiver profissionais qualificados dentro da área, não tem como você crescer, não tem como o estabelecimento crescer, não tem como fazer com que os clientes saiam satisfeitos com o serviço prestado”.Dona de casa:
“Todos saem ganhando: o estabelecimento, que pode contar com profissionais certificados, o profissional que tem o seu trabalho devidamente reconhecido e remunerado, e a gente, como cliente, só tem a ganhar”.Pois é, meus queridos, a coisa funciona assim: para cortar cabelo, querem curso e diploma. Para ser jornalista, não.
Vejam que tanto a proprietária do salão quanto a frequentadora de um deles diz que um profissional, digamos, certificado, dá mais segurança do serviço feito para clientes e patrões. Ou seja, o discurso ali privilegia a formação em detrimento do aprendizado empírico. Exatamente o contrário foi o que fizeram com o jornalismo. Tirou-se a obrigatoriedade do diploma com a desculpa de que jornalismo se aprende na prática.
Desculpem por estar falando de um tema já tão batido e debatido, mas é que essa descrença na profissão de jornalista me fere o umbigo. Irrita perceber o quanto as pessoas - e até mesmo profissionais de comunicação - não entendem a importância e a responsabilidade embutida em um veículo de comunicação.
O jornalista trabalha com a prerrogativa da verdade. Matérias de jornal são usadas em tribunais, em botequins e em teses de doutorado para provar que o que se fala é verdadeiro. Então, como podemos acreditar que fazer jornalismo é para qualquer um? Como podemos defender que a formação acadêmica de um jornalista é dispensável?
Se alguém entende como isto pode ser possível, por favor, me explique!
Abraços,
Clara Araújo